Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Ansiedade é filha do controle

Publicado em 07/02/2025 às 06:00.

Ansiedade é uma doença que virou uma epidemia da atualidade . É muito comum alguém ficar ansioso pelo mínimo de estresse que vivencia. Tudo parece ser gerador de ansiedade: o trânsito, os filhos, o trabalho, incluindo as situações rotineiras da vida. Não há quem não se queixe de se sentir ansioso. 

Vivenciar momentos de ansiedade frente a algum acontecimento incomum à rotina é normal de ocorrer. Porém, o que sai da normalidade é quando um indivíduo vive com esse sentimento na maior parte do tempo. É quando a ansiedade se torna uma vilã, consumindo a qualidade de vida e impedindo o indivíduo de desfrutar de um estado de paz e serenidade.

Quando isso ocorre, é comum as pessoas se adaptarem a essa situação, ora suportando, ora tomando remédios para atenuar os sintomas. Mas é preciso ir além e investigar as causas. 

Embora a ansiedade possa ter uma origem genética, ela também tem a ver com outros fatores, como condicionamentos mentais, estilo de vida e formas de conduzir a vida. Pessoas cuja personalidade é mais controladora são as mais propensas aos impactos da doença. 

Sim, a ansiedade é filha do controle! Quem gosta de controlar tudo e todos, nunca relaxa e está sempre na vigília, como se estivesse com um radar 24 horas ligado. Quer controlar o tempo, o trânsito, o comportamento das pessoas, a conduta inadequada dos outros, vive como se todos tivessem que se adequar à sua cartilha. Vive em constante estado de alerta e trazendo para si o comando de várias funções. Além de ansiosa, pois está sempre na expectativa de algo, se sente esgotada - a vigília é exaustiva.

Mas é importante considerar que o controlador não tenta interferir só na vida dos outros, ele tenta controlar a própria vida, hábitos, rotina e exige de si um comportamento espetacular - geralmente o controlador é um perfeccionista muito rigoroso consigo mesmo. 

Na mesma vertente do controle, há aqueles que quando não conseguem êxito em suas execuções passam horas ruminando mentalmente aquilo que não deram conta de fazer. Sentem-se extremamente ansiosos por esbarrarem nas próprias limitações e, com isso, impotentes. Alem de ansiosos, ficam frustrados, irritadiços, se culpando e pensando no que poderiam ter feito.

Outro comportamento gerador de ansiedade é quando o controlador é também procrastinador. Essa combinação é uma bomba-relógio prestes a explodir. A cabeça não para de pensar na pendência e um antagonismo se instala: se sente mal, mas não age; pensa no problema, mas não o resolve; planeja, mas não executa. Esse cabo de guerra entre a cabeça que não pára e o corpo que não move gera uma fonte interminável de ansiedade, além de baixar a autoestima pela sensação de fracasso. Procrastinar é um dos comportamentos mais autodestrutivos para saúde mental. 

Aos que buscam uma boa qualidade de vida, convém estar disposto a desapegar do controle. A vida não funciona como um script ou um programa de computador; ao contrário, tudo é impermanente e nem tudo sai como gostaríamos. Aprender a lidar com essa instabilidade é fundamental para qualidade do nosso bem-estar. 

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