Um assunto bastante comentado atualmente é a “cultura do cancelamento”. Até pouco tempo, eu não sabia ao certo do que se tratava. O nome não me pareceu tão claro. Pensei que, em vez de “canceladores”, poderiam ser “deletadores”, uma vez que o termo surgiu em função das redes sociais. Mas, de qualquer forma, já está convencionado e amplamente usado.
Canceladores são pessoas que, mediante algum ato não aprovado, iniciam um movimento de cancelamento (parando de seguir nas redes), acompanhado de agressões verbais, ameaças à pessoa e familiares, torturas psicológicas e outros. São como juízes, que dão a sentença e condenam a uma pena altíssima.
Mas o termo ganhou proporção e saiu do meio virtual e de celebridades e hoje já faz parte do cotidiano das pessoas comuns. Existem os canceladores no ambiente de trabalho, entre amigos, em família e até nas relações afetivas.
O cancelador é como o dono da verdade, que usa critérios próprios, muitas vezes, não declarados, e define unilateralmente excluir quem cometeu determinado ato que ele não aprovou.
Inicia-se a partir daí uma campanha difamatória para reforçar a acusação e justificar a atitude. Para o cancelado, não sobram chances de se explicar e também não importa se seu “deslize” foi um ato isolado. O cancelador é implacável e impiedoso. Não perdoa.
Uma característica interessante é que o cancelador não olha para si, está sempre com o dedo apontado para fora, se posicionando numa hierarquia superior, mostrando poder, hostilizando e deixando o excluído com sentimento de culpa.
Mas é preciso deixar claro. Desfazer uma amizade por algum desentendimento, afastar-se de um parente por desavença, não significa cancelar.
O cancelamento é diferente, é odioso, difamatório, e tem a intenção de fazer time, ou seja, espalhar sua versão para o maior número de pessoas para que todos sintam raiva e o cancelem também. Dessa forma, o objetivo é deixá-lo sozinho, desmoralizado, cancelado.
Quem lidera esse tipo de movimento em casa, no trabalho ou no grupo de amigos tem um viés manipulatório e algumas características, como: sentimento de superioridade, que faz com que ele se sinta numa casta acima; ausência de empatia; tendência a agressividade; prazer na dor do outro (sadismo); em alguns casos, uma descarada hipocrisia, pois condena o outro pelo mesmo crime que comete; e uma soberba inquestionável.
Embora pareça ser uma pessoa forte, essa não é a verdade. Pessoas que agem assim são fracas, pois não têm competência para dominar as próprias reações negativas, impulsos e agressividade. São regidas pela emoção negativa, perdendo totalmente o domínio sobre si.
Pessoas verdadeiramente fortes sabem que a arrogância corresponde a um equívoco, por isso, se esforçam para ser justas e pacificadoras, pois têm um compromisso interno de ajudar, jamais crucificar.