No artigo da semana passada abordei o assunto “A melhor maneira de cuidar do outro”, e joguei luz ao fato de que muitas pessoas se ocupam de cuidar dos demais estando em débito consigo. Isso abre reflexão para duas vertentes: o desvio do foco da própria vida, uma vez que resolver o problema do outro é bem mais fácil; e também uma inversão de prioridades, onde eu me proponho a ajudar alguém a pagar a dívida dela estando eu endividada.
Sob o viés dessa reflexão voltamos para dentro de nós. E a pergunta que fica é: será que somos bons gestores da nossa própria vida? Pessoas que cuidam bem de si se destacam por algumas atitudes:
Prometem e cumprem o que se propõem, não procrastinam e tampouco empurram a poeira para debaixo do tapete. Fazem o que tem que ser feito.
Cuidam bem da saúde física: se exercitam regularmente e estão em dia com os exames. Por estarem atentos ao próprio corpo, cuidam bem da alimentação e adquirem hábitos saudáveis.
Tomam decisões importantes e não esperam que a vida faça isso por eles: muitas vezes, quando nos encontramos frente à decisões difíceis, costumamos deixar o problema para resolver depois. Estamos com isso postergando o problema e desejando que ele se resolva por si só. Isso não ocorre. O que costuma acontecer é justamente o contrário: a situação piora tendendo a tomar proporções maiores e que poderiam ter sido evitadas.
Sentem-se satisfeitos consigo: a satisfação pessoal está imediatamente ligada às nossas condutas. AS autodestrutivas nos levam a ter um mal juízo de valor a nosso respeito, portanto afetam a autoestima. O contrário também ocorre. Cada vez que temos condutas autoconstrutivas nossa autoestima sobe e com ela a nossa segurança emocional. Sentir-se seguro tem a ver com confiança em si que é adquirida de acordo com a forma que nos comportamos.
Fazem mais do que falam: muitas vezes falamos algo sobre nós que não corresponde à verdade, uma espécie de autopromoção tanto para elevar a imagem perante o outro quanto para tentar se convencer. Um autoengano amplamente usado para não acessarmos o real problema que precisa ser resolvido. Uma pessoa com boa gestão da própria vida mapeia o problema e trabalha no sentido de resolvê-lo. Se ocupam mais de executar do que se vangloriar.
São justas: nem boazinha demais, nem egoísta. Para conseguir essa medida equilibrada é fundamental perder o medo de dizer “não”, aprender a se posicionar e expor o que está sentindo, ao invés de guardar para si por medo, vergonha ou fragilidade, e negociam questões importantes sem “largar para lá”.
Só é possível manter relações justas quando se é justo consigo. Quem vive querendo “ficar bem com todo mundo” acaba por vezes abrindo mão de si mesmo e passando para uma postura permissiva –o que revela uma fragilidade a ser trabalhada.
Para muitos, conseguir fazer uma autocrítica honesta para de fato perceber o que precisa ser melhorado é difícil. Isso leva a crer que melhor é olhar para fora e pontuar o que falta no outro, contudo, o avanço emocional só se dá olhando para dentro. Em termos de satisfação, não tem dinheiro que pague ter uma boa gestão da própria vida.