Crescemos ouvindo falar sobre o “complexo de inferioridade”; o que pouco se fala é sobre o “complexo de superioridade” que tem sua origem na mesma vertente, pois, ambos se sentem por baixo. Se sentir superior tem a ver com um sofisticado mecanismo de compensação de quem se sente inferior.
Embora seja difícil imaginar que aquele indivíduo arrogante e prepotente que (aparentemente) se sente acima de tudo e de todos, no fundo, sofre de sentimento de inferioridade. Mas é isso que acontece.
Nem tudo que reluz é ouro. Na maioria dos casos, esse sentimento de grandiosidade não passa de uma forma de compensar velhos esquemas de inferioridade por vezes instalados na infância e adolescência. Ocorre que a baixa autoestima se manifesta de duas maneiras antagônicas: uma, através da subserviência, uma servidão ao outro, e a outra forma é através da prepotência. Ambas derivadas do mesmo lugar: complexo de inferioridade.
Engana-se quem pensa que pessoas arrogantes e egocentradas têm boa autoestima. Isso não é verdadeiro. Não devemos confundir autoestima com vaidade. Pessoas com boa autoestima são serenas, confiantes, sentem-se satisfeitas consigo e não precisam ecoar aos quatro cantos como são boas, honestas, inteligentes, felizes. Ao passo que uma autoestima baixa torna as pessoas inseguras, possessivas, impositivas, fofoqueiras, narcisistas que tem o hábito de criticar e desqualificar o outro.
Já dizia Freud: Quando Pedro me fala de João, sei mais de Pedro do que de João”. Julgar e criticar o outro não enaltece o comunicador, aliás, só faz provar o contrário, pois uma das facetas do complexo de inferioridade se manifesta através da inveja – um sentimento de tristeza pela felicidade do outro. Típico de quem se sente por baixo.
Daí a origem do despeito e ingratidão. Há um ditado popular que diz: “A ingratidão é filha da inveja”. O psiquiatra Flávio Gikovate define bem esse sentimento: “A ingratidão tem sua lógica: quem dá é o ‘rico’, e quem recebe é o ‘pobre’. Daí a inveja! Poucos são os que aceitam receber com dignidade e retribuem com gratidão. Da admiração derivam dois sentimentos: um é o amor, o outro é a inveja. Ela penderá para um ou outro lado conforme o caráter e a autoestima do observador”.
A hostilidade dirigida a quem tanto fez e ajudou é uma reação negativa típica da pessoa que se sente por baixo e que, no fundo, reconhece esse rebaixamento, mas, como não pode se revoltar contra si, dirige sua agressividade contra outro, o abundante. E o ciclo se repete: quanto mais recebe, mais hostiliza e mais fala mal do doador.
Aqueles que manifestam o complexo de superioridade geralmente projetam seus sentimentos de inferioridade nos outros os tratando como seres inferiores. Passam uma imagem de fortes e poderosos, mas, no fundo, estão mesmo é escondendo seus medos e vulnerabilidades através dessa empáfia. Com esse comportamento ainda conseguem enganar muitos. Mas, num olhar mais cauteloso, só fazem se revelar como um blefe. Observem!