"Há 8 anos faço tratamento para depressão. Sinto tristeza constante, um vazio no peito e vivo em estado de ansiedade, oscilando entre estar bem e não querer sair da cama. Faço acompanhamento médico a cada 4 meses com psiquiatra, mas parece que para mim os remédios não fazem efeito. Me sinto a mesma coisa com remédio ou sem. Ele já trocou minha medicação mais de 5 vezes nesses 8 anos. Cada troca de medicação, uma nova esperança, mas nada acontece. Agora, um novo tratamento se apresenta, um choque para ver se há resultado. Será que essa depressão não terá fim”?
Muitas são as queixas que chegam dessa natureza, um tratamento constante e aparentemente sem resultado para curar uma “depressão interminável”. O assunto é sério e merece ser avaliado com cautela.
É importante classificar a depressão em dois tipos: a endógena, aquela que nasce de dentro para fora, em que o indivíduo se sente bem, mas de uma hora para outra há um desequilíbrio químico interno, sem causa externa e a partir daí o estado depressivo se instala. Esses casos são muito bem percebidos pelo paciente por ser algo muito pontual e fácil de detectar pela intensidade e rapidez com que o problema se instala.
Mas estes casos são minoria. A maior parte deriva de causas externas e é chamada depressão situacional, desencadeada por algo externo e que acaba causando o mesmo desequilíbrio químico que o primeira tipo aqui detalhado, porém com causas concretas muito pontuais.
Quando alguém se queixa que o remédio não faz efeito, é preciso avaliar. No primeiro caso, a medicação geralmente age com muita eficácia modulando o que entrou em desalinho. O problema maior está quando há algo externo drenando, dia a dia, por anos, a saúde mental da pessoa.
As causas externas variam de pessoa para pessoa, mas geralmente tem a ver com insatisfação no trabalho, rupturas amorosas, perdas de pessoas queridas, fatalidades, dissabores com filhos, diagnósticos de doenças graves, perdas financeiras ou mesmo dificuldade em lidar com o vazio existencial que aparece com uma espécie de falta de sentido na vida. Essas causas vão aos poucos sugando a vitalidade da pessoa até ela não ter reservas que suportem tamanha angústia e então entram num estado de perda de vigor, desânimo profundo, onde não vê graça nas coisas, choro fácil, medos exagerados, pessimismo, não tem interesse e nem entusiasmo pela vida e por isso reduzem sua rotina a pouquíssimas coisas que ainda podem gerar um pequeno prazer.
É muito comum o médico, ao tratar um paciente deprimido, indicar, além do remédio, uma terapia. O objetivo é unir forças para que o indivíduo consiga fazer um mergulho honesto dentro de si e, à partir daí, poder administrar, de forma madura, suas emoções, sempre na direção de se livrar das dores evitáveis e ou aceitar, com serenidade, as inevitáveis, aquelas que a vida forçosamente nos impõe.
Vale lembrar que um tratamento eficiente contra a depressão engloba hábitos saudáveis e autoconstrutivos, vinculados à disciplina, rotina de atividade física, boa alimentação, mas, sobretudo tomada de consciência e de decisões. Não há nada mais curativo que sair da condição que nos deixa infelizes.