Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

É possível ser feliz?

Publicado em 28/12/2016 às 18:30.Atualizado em 15/11/2021 às 22:15.
O estudioso e psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi chamou de autotélicas as pessoas que precisam de poucos bens materiais, pouco entretenimento, lazer, pouco conforto, poder ou fama, sendo mais autônomas e independentes por não se sentirem ameaçadas ou seduzidas pelas recompensas externas. São indivíduos que sentem prazer em tudo ao seu redor e realizados nas atividades que exercem. 
 
Para entender melhor esse conceito é necessário a distinguir realização de sucesso. A realização é algo interno. Uma sensação que vem de dentro e se orienta para um fim que o próprio indivíduo se propõe. Daí a origem da palavra autotélico – “auto” que significa “por si mesmo” e “telos” que significa “fim”. Assim sendo, a experiência autotélica refere-se a uma atividade autossuficiente, envolvente, realizada sem a expectativa externa. Já o sucesso, ao contrário disso, é algo orientado “para fora”, para tudo que julgamos que irá impressionar os outros. Tem mais a ver com a vaidade e competitividade social. 
 
Na visão de Mihály, uma pessoa autotélica sente-se realizada e preenchida porque suas habilidades se emparelham às suas oportunidades. Há um casamento perfeito entre a propensão para agir e a ação. 
 
Contudo, isso é um fenômeno raro. O que geralmente ocorre é o inverso, um desencontro desses comportamentos. Por exemplo: um indivíduo que tem um desafio maior que suas habilidades, provavelmente sentirá ansiedade e angústia. Já aquele cujas habilidades são superiores ao desafio, se sentirá entediado. Porém, quando há um equilíbrio entre a habilidade e o desafio, surge a autotelia. 
 
O estudo sugere que a felicidade depende das experiências autotélicas a partir de qualquer atividade, da mais útil a mais inútil; da mais simples a mais sofisticada, incluindo desde atividades criativas, música, esporte, jogos, aprendizado, hobbies até estudar, dirigir, limpar a casa, entre outras. 
 
Este conceito nos ajuda a entender pessoas com alto nível de felicidade mesmo sem dinheiro. Decifra também a atitude daqueles que abandonam altos salários em busca de algo que faça mais sentido para sua vida. Afinal, sucesso financeiro nunca foi garantia de felicidade. Claro, que não pode faltar dinheiro para o básico como comida, alimentação, moradia e algum para o supérfluo também é importante. Contudo, a sensação de plenitude e autotelia não tem vínculo com bens materiais. 
 
Pessoas autotélicas tendem a registrar permanentemente estados emocionais positivos. Sentem que sua vida é mais significativa, pois, para elas, o processo já é o próprio resultado. Possuem a competência de viver de maneira independente e com autonomia emocional. Estão inteiros em si, submersos no fluxo da vida. 
 
Experiências autotélicas, este é meu voto para ano que se inicia!
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