Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Faça uma pergunta - 10

Publicado em 25/03/2021 às 08:48.Atualizado em 05/12/2021 às 04:30.

Completando, hoje, dez semanas de respostas às perguntas dos leitores. 

A pandemia exacerbou a hipocondria?
Sim. Mas é importante ressaltar que a hipocondria é um transtorno caracterizado pelo medo exagerado e ilógico de adoecer, gerando uma hipervigilância em relação à saúde e promovendo um estado de angústia constante. O hipocondríaco nutre a crença persistente da presença da doença e, mesmo com investigações médicas negativas, insiste na preocupação. No caso da pandemia, a gravidade e a necessidade de vigilância são reais e não ilógicas conforme define o transtorno.

2 - O que explica o modo de agir de quem culpa o outro por tudo e se desculpa por tudo?
Há pessoas que são regidas pelo duplo padrão moral e comportamental: ao outro a punição, a si o perdão. É enlouquecedor conviver com quem age assim. Se a situação for favorável a si, aplica-se uma interpretação. Se a mesma situação for desfavorável, terá uma interpretação oposta. Um comportamento que, além de incoerente, é hipócrita, pois exige do outro aquilo que não se pratica. 

3 - Tenho muita dificuldade de lidar com pessoas arrogantes que se sentem superiores aos demais. A arrogância é alguma doença?
Não associo a arrogância a uma patologia, e sim a um mecanismo de defesa equivocado. Geralmente, o arrogante é alguém ferido e inseguro, que, sem conseguir superar suas mágoas, desenvolve uma suposta superioridade. Não canso de falar que nem tudo que reluz é ouro: a arrogância corresponde a um blefe. O arrogante é um indivíduo tão inseguro que precisa desqualificar o outro para se sobressair. Utiliza da superioridade para vender a imagem de forte, mas no fundo há uma grande fraqueza emocional. 

4- Por que sentimos culpa de maneira desnecessária ou exagerada?
Muitas vezes porque fomos treinados a isso. É importante ressaltar que a culpa é uma das emoções mais negativas: ela nos aprisiona a uma autopunição que não serve para nada a não ser para garantirmos, para nós mesmos, que somos pessoas boas. Na maioria das vezes, a culpa é injusta pois não distribui o débito a todos os devedores; ao contrário, atribui a uma única pessoa o peso de toda a dívida. Uma forma madura de lidarmos com a culpa é desenvolvendo o autoperdão associado ao aprendizado adquirido. Ou seja, usar o erro para crescer, não para se autopunir. 

5 - Como explicar a dificuldade das pessoas em ouvir?
Pessoas muito egocentradas têm grande dificuldade em ouvir. Gostam mesmo de ser ouvidas. Estão sempre prontas para interromper o outro garantindo que suas histórias são mais interessantes; suas dores, mais doloridas; seu sofrimento, mais intenso; seu trabalho, mais penoso. Não importa se para melhor ou para pior, querem mesmo falar de si. Não sabem o que estão perdendo, pois a serenidade presente no ouvir é incomparavelmente melhor do que a ânsia de falar. 

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