Ao fim de cada mês tenho aberto esta coluna para responder perguntas enviadas pelos leitores. O número de questionamentos vem crescendo, o que tem me deixado bastante animada em responder. Vamos a algumas questões:
1 - Semana passada seu artigo foi sobre os ditados populares. Fiquei com vontade de saber sua opinião sobre este: “Sou responsável pelo que eu falo, não pelo que você entende”.
Não concordo. Penso que não estar preocupado com o que o interlocutor entende demonstra um claro descaso pela fluidez do diálogo. Onde há um zelo em relação ao outro, há também a preocupação em saber se me fiz compreendido. Conferir se houve entendimento da outra parte é um ato de atenção e carinho.
2 - Como pode uma pessoa que faz tanta caridade ser, dentro de casa, tão egoísta. Afinal de contas essa pessoa é generosa ou é egoísta?
É preciso separar as coisas. Ter atos de bondade, doar dinheiro para caridade, gostar de animais, tratar bem os filhos, ser fundador de uma ONG, promover movimentos sociais, nada disso retira o caráter egoísta de uma pessoa, caso ela seja. Isso porque essas ações são “para fora”, já o egoísmo é “para dentro”. Por isso, é completamente possível uma pessoa ser aparentemente altruísta e, na intimidade, ser egoísta. Uma coisa não anula a outra. O comportamento de uma pessoa depende do “todo” e não de partes fragmentadas.
3 - Não sinto falta de sexo. Fico longos espaços de tempo sem praticar e não me importo. As pessoas têm impressão de que homem quer sexo todo dia, mas isso não é verdade, pelo menos no meu caso. Devo entender isso como um problema?
Por mais diferente que possa parecer, não gostar de sexo não é tão raro quanto muitos pensam, há quem o considere fundamental, enquanto outros não sentem tanta necessidade de praticá-lo. Isso está diretamente ligado ao apetite sexual. Uns têm muito, outros médio, pouco ou até nenhum apetite. Quem não sente nenhum desejo são os assexuais, popularmente chamados de “assexuados”. A falta de interesse sexual não pressupõe doença, mas pode ser fator gerador de conflito caso se esteja dentro de uma relação afetiva onde os interesses dos parceiros estão em desalinho.
4 - Sou extremamente consumista. Compro o que não preciso, gasto o que não tenho, compro coisas repetidas e roupas ficam na sacola da loja. O que fazer para frear esse descontrole?
A expressão “todo excesso esconde uma falta” tem sua razão de ser. O consumir exageradamente pode revelar uma tentativa de obter prazer para compensar um aspecto da vida que não vai bem. Porém, este prazer é efêmero e logo vem a necessidade de consumir mais. Um buraco sem fundo que só traz frustração e revela o descontrole emocional. O que muitos não sabem é que o consumismo pode ser uma doença. A oniomania é uma doença caracterizada por atos excessivos, incontroláveis, repetitivos e irresistíveis em comprar. Não importa a mercadoria ou a necessidade, o desejo em adquirir se sobrepõe de forma irracional.