Mudar um comportamento não é fácil e vai muito além da nossa vontade. Requer esforço, disciplina, privações, determinação e várias outras atitudes que são imediatamente desprazerosas. É preciso quebrar a inércia e abandonar padrões repetidos por anos e colocar outros novos. Além disso, é preciso ainda lidar com a possibilidade do fracasso, e algumas pessoas, por não se permitirem errar, temem inconscientemente a mudança por receio de não dar conta dela. Com isso, ficam paralisadas sem conseguir andar para frente.
Outra questão que dificulta é o fato de a mudança não vir de apenas uma atitude. Para mudar um único comportamento, é preciso mudar no mínimo outros três. Alguns exemplo: quem almeja ser mais tolerante tem também que aprender a aumentar a empatia, se despir do ego e exercitar a compaixão. Imagina a dificuldade em ter que desenvolver comportamentos que requerem emoções para existirem. É preciso querer muito e aprender novos caminhos.
Já quem deseja aprender a dizer “não” precisa estar preparado para lidar com a vergonha, a culpa, o remorso - três freios emocionais fortíssimos que atrapalham sobremaneira a mudança.
O medo do novo também causa muita dificuldade. Aliás, está atrelado à dúvida se tanto esforço no final irá valer a pena. Uma espécie de autossabotagem que faz com que nossa mente acredite que é melhor ficar do jeito que está a correr o risco de não melhorar tanto. É como se emocionalmente sentíssemos que não vale a pena, embora racionalmente soubéssemos que sim.
A partir daí, se estabelecem duas forças antagônicas e intensas: a razão que sabe que precisa mudar e a emoção que reage quase num impulso involuntário. No final é você lutando contra você.
Há também quem mude apenas o discurso. É o que eu chamo de mudança estratégica temporária. O indivíduo frente a alguma situação de pressão, como um flagrante, por exemplo, promete mudança instantânea. Alega que a “ficha caiu” e que não quer mais ser de tal maneira. O arrependimento é tão grande que geralmente vem seguido de fortes emoções como choros e outras manifestações. Mas toda essa situação é fruto de um arrependimento raso, que tem mais a ver com o susto e a vergonha do que com a genuína vontade de mudar. A preocupação maior é perder o status no qual está inserido.
A mudança real é a mudança viceral, deriva de um processo dolorido de arrependimento, sofrimento e requer um mergulho honesto para dentro de si. Assumir erros, se esforçar, às vezes recair sobre o comportamento antigo mas se comprometer em recomeçar novamente. A real mudança é feita de dentro para fora, mas nitidamente percebida pelos de fora. Geralmente nesse tipo de comportamento não há discurso, e sim mudança de postura.