Fugimos da realidade de várias formas, conscientes, inconscientes, e através de artimanhas mentais que atuam como se estivessem a nosso favor, mas estão mesmo a serviço de embaçar nosso autoconhecimento. São chamados na psicologia de “mecanismos de defesa” e são acionados cada vez que nos sentimos vulneráveis frente a um sofrimento.
Um dos mecanismos mais comuns é a “negação”, que baseia-se em negar a existência do problema como se aquilo não existisse, como por exemplo: tem um problema de saúde, mas não faz o tratamento adequado, faz vista grossa para algo que não quer resolver, continua usando aliança mesmo quando a relação terminou. A negação pode chegar a situações extremas, em que o indivíduo simplesmente esquece que aquilo está acontecendo. Não aceita a verdade e cria uma falsa realidade paralela.
Outro mecanismo muito acionado é a “racionalização”, que é a mentira verdadeira. Um exemplo pode ser o daquela pessoa que não tem disciplina para o estudo e se apoia na história de uma prima que passou no concurso sem estudar. Usa uma verdade de outra pessoa para atenuar a própria dificuldade em realizar algo. Racionalizar significa contar para os outros e para você mesmo que não é preciso tanto esforço para obter algo e quando acreditamos nisso atenuamos nossas obrigações –e a ansiedade. A racionalização é uma forma mais elaborada de negação.
Já a “repressão” é outra artimanha mental que ocorre quando condenamos algo que gostaríamos de fazer, mas nosso senso moral não aprova. É comum ocorrer em pessoas com rígida educação, premissas religiosas ou código interno de conduta que reprova tal desejo. Na repressão há uma falsa crença de que o pensamento irá desaparecer, mas isso não ocorre. Geralmente, surge em sonhos, atos falhos ou em comportamento que foge do controle. Alguém com fortes desejos reprimidos pode apresentar alta irritabilidade, somatização ou até quadro depressivo.
Um mecanismo muito interessante é a “fantasia”, em que o indivíduo cria na mente uma situação hipotética e entra nessa realidade inventada. A criança tem muitas fantasias mentais, é típico do universo infantil; já o adulto com uma conduta imatura vive dentro de uma fantasia, imaginando-se morando num castelo, ou sendo muito rico e sendo tratado com toda mordomia.
Essa fantasia pode se manifestar também num diálogo imaginário, em que a pessoa se coloca discutindo com outra e falando em pensamento tudo que não tem coragem de falar ao vivo. É um mundo de imaginação onde a pessoa se vê mais corajosa, mais poderosa, mais potente. É também chamado de sonhos diurnos ou fantasia consciente.
A “projeção” é outra artimanha mental muito usada pelas pessoas mais imaturas que, tomadas pela dificuldade em se responsabilizar por algo que fizeram, tratam logo de jogar a culpa no outro. Projetar é deslocar um impulso interno para fora, é um egoísta que xinga o outro de egoísta, o ciumento que culpa o outro por crises de ciúmes, o autoritário que chama o outro de arrogante e assim por diante.
Como a chave busca sempre pela fechadura, o indivíduo que tem a projeção como comportamento, conecta-se com quem é mais inseguro e assume para si alguma parte dessa culpa. A conexão do imaturo com o inseguro reforça o que no outro há de pior. Uma trama difícil de se desvencilhar!