1- De onde vem essa tamanha dificuldade em falar “não”?
Penso vir principalmente de duas bases: medo de rejeição e sentimento de culpa.
O primeiro é algo universal. Ninguém quer ser rejeitado. Porém muitos aprendem, ao longo da vida, como administrar isso e saem dessa prisão. Já outros permanecem nela por anos, quiçá uma vida. Pessoas dominadas por esse medo não conseguem lidar com a possibilidade de serem rebaixadas no conceito do outro. Por isso tratam logo de dizer “sim”, mesmo sem querer, para não correr o risco de perderem prestigio ou valor na concepção alheia.
O segundo motivo tem a ver com o sentimento de culpa. Há uma ideia de que quando não atendemos o desejo do outro somos egoístas. Um pensamento equivocado, pois o desejo do outro é priorizado em detrimento do meu.
2- A ansiedade será protagonista da nossa vida até quando?
Até resolvermos deixar de lado a personalidade controladora. Muitos de nós vivemos acreditando que todo resultado positivo da vida é fruto exclusivamente do nosso controle. Viver assim é fonte contínua de ansiedade, além de muito cansativo. Para diminuir a ansiedade é preciso aceitar as condições que a vida nos impõe e saber que não estamos no controle . Aceitar não significa se tornar passivo, mas sim pacífico. A ansiedade tem a ver com controle, estresse, raiva, medo. Já a serenidade está ligada à resignação, docilidade e paciência.
3- Fale um pouco sobre o transtorno borderline? É possível ser feliz ao lado de alguém que tem esse problema?
De forma resumida, é um transtorno de personalidade onde o indivíduo tem grande dificuldade de controlar as próprias emoções. Há um baixíssimo nível de tolerância à frustração, atrelado à impaciência que faz com que haja uma explosão ao menor sinal de dissabor.
Um traço marcante do comportamento borderline são os ataques de fúria. São como uma bomba-relógio prestes a explodir. São regidos pelos extremos de idealização e desvalorização: é o típico "tudo ou nada”. Vivem a maior parte do seu tempo raivosos e quase nunca se sentem em paz.
A manifestação desse transtorno pode ser comparada ao comportamento de um adolescente rebelde e problemático com o nível de tolerância zero. A diferença é que com o tempo o adolescente tende a melhorar, já o borderline pode ter seu lado afetivo sempre imaturo.
Esse jeito de ser acaba tornando a convivência muito desgastante pois nunca se sabe qual gatilho fará o borderline explodir.
4- Tenho sempre a sensação de que sou explorado. Como fazer para evitar isso?
Quanto mais justo você for, menos terá essa sensação. O justo é aquele que estabelece trocas onde “dar e receber” ocorre na medida do equilíbrio. Nem sempre as relações são pautadas de forma justa. Na maioria das vezes há uma parte que doa mais - a generosa; enquanto a outra vive de receber regalias - a egoísta. Precisamos ficar atentos a isso. A boa relação é aquela onde a troca é justa (nem generosa nem egoísta) e ambas as partes se sentem recompensadas.