Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Inveja, cobiça e competição

Publicado em 08/02/2017 às 19:40.Atualizado em 15/11/2021 às 22:46.

Apesar de serem sentimentos distintos, não são emocionalmente puros, uma vez que eles se assemelham e se misturam muito. Contudo, é importante a avaliação de cada um deles. 

– Inveja: entende-se pela inveja a raiva ou frustração pelo sucesso alheio. Uma espécie de tristeza pela alegria do outro. Um sentimento humano muito comum, que é também o pecado capital no qual as pessoas mais se identificam, embora tenham vergonha de admitir que o sentem. Preferem enxergá-lo no outro. 

A inveja não ocorre apenas em relação a objetos e bens materiais. Existe também a inveja emocional, tão comum quanto a material. Sente-se inveja da inteligência, da desenvoltura, da ousadia e também das más qualidades, malandragem, lábia, cara de pau – um paradoxo onde os bons invejam os maus. 

A inveja deriva da admiração – quando considero o outro mais desenvolvido que eu, logo me sinto inferior, portanto, triste pelo fato do outro possuir o que eu não possuo. Está aí a tristeza pela felicidade alheia. 

A inveja pode atingir níveis tão descabidos a ponto de alguém aceitar perder para o outro perder mais. 

Diz uma parábola medieval que um homem ganancioso e outro invejoso encontraram um rei. O rei lhes disse: “Um de vocês dois pode me pedir alguma coisa e eu lhe darei, desde que possa dar o dobro ao outro”. O invejoso não quis ser o primeiro porque ficou com inveja do companheiro que receberia o dobro, e o ganancioso também não quis porque desejava tudo para ele. Finalmente, o ganancioso conseguiu com que o invejoso fizesse o pedido primeiro. Foi aí que invejoso pediu ao rei para lhe furar um dos olhos. 

– Cobiça: significa o desejo de ter aquilo que o outro tem sem que isso lhe cause tristeza. É um sentimento legítimo e que muitas vezes traz estímulo a quem sente. 

O cobiçador e o invejoso têm um comportamento parecido. Ambos admiram e desejam/imitam o que o outro tem, porém a cobiça não tem a parte mais negativa da inveja. Talvez seja por isso que muitos se sentem cobiçadores, quando na verdade não passam de invejosos. 

– Competição: é algo bem aceito e estimulado pela sociedade, sobretudo no campo profissional. Embora tenha sua parcela de vantagem – quase sempre para o empregador, a competição vai além desse ambiente e se estende para as relações pessoais. Pessoas competitivas não gostam de perder. Querem ganhar até aquilo que não é importante. A vitória para eles tem um componente necessário, pois certificam sua valia. Para o competidor não basta ganhar, é preciso que o outro perca. Esta característica empobrece as relações, uma vez que o foco está na disputa e não na parceria. 

O curioso é que: inveja, cobiça e competição, apesar de serem sentimentos indignos, não se manifestam em ambiente hostil. Na maioria das vezes está presente entre as pessoas que mais amamos, amigos, parceiros afetivos, família, irmãos. 

Investir na própria vida, buscar a evolução pessoal e diminuir a comparação com o outro são atitudes importantes que atenuam as chances de viver prisioneiro dessas emoções.

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