Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Mau humor

26/05/2021 às 15:09.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:01

O significado de mau humor é de conhecimento geral, mas o que muitos não sabem é que em alguns casos isso pode significar doença.

Podemos dividir em dois os tipos de mau humor: o distímico e o de temperamento

Distimia é um tipo de depressão leve e crônica que tem o mau humor como sintoma marcante. Além disso há a presença de irritabilidade, tristeza, ansiedade moderada, baixa autoestima, pensamentos negativos e desânimo.

Não são deprimidos no sentido clássico da palavra, mas estão sempre insatisfeitos, tomados por sentimentos pessimistas, criticando e reclamando de tudo  e com o humor constantemente prejudicado. São pessoas visivelmente moduladas para baixo.  Mas para mapear a distimia é importante a presença do desânimo, da falta de energia para agir e da sensação de falta de sentido na vida.

Em consequência disso, é muito comum o indivíduo procurar alívio em algum comportamento compulsivo: álcool, drogas, comida, jogo, consumismo ou outras fontes de prazer imediato.

A grande dificuldade é se perceber doente, pois quem carrega consigo a distimia raramente se vê como deprimido e, sim, acredita que a vida é um fardo e que seu mau humor é “normal” frente às dificuldades. Com isso, vive anos, quiçá uma vida inteira, submerso numa depressão carregando um peso que o impede de ver a vida de forma leve.

Mas nem sempre o mau humor deriva da distimia. Em muitos casos ele é uma espécie de aliado para levar vantagens. Explico melhor: existe uma forte ligação entre mau humor e egoísmo. Pessoas mais egoístas costumam manifestar com mau humor e (muita) reclamação sua intolerância à frustração. Só fazem isso porque sabem que irão receber benefícios. Sabem que do outro lado sempre aparece alguém que, no intuito de resgatar um clima bom, acaba fazendo algo para reverter aquele desconforto. Dessa forma, tendem a atender aos desejos e caprichos daquele que “emburrou”. No final das contas, o mau comportamento é “recompensado" com regalias. Isso reforça a vantagem em ser assim.

À primeira vista pode parecer estranho, mas é mais comum do que imaginamos. Dificilmente queremos contrariar gente chata, pois o barulho que elas fazem é tão grande que é melhor tratá-las com mais cuidado para não degustar o dissabor da sua contrariedade. Com isso, preferimos prejudicar "os bons” em detrimento dos “ruins”, pois sabemos que os chamados “gente boa” irão entender e não criarão grandes problemas, já os ranzinzas…

Mas convém refletir: não deveríamos inverter essa equação? Os bons não deveriam ser merecedores de privilégios enquanto os chatos deveriam ser punidos pela sua chatice e imaturidade? À medida em que fazemos o contrário, não estaríamos estimulando um comportamento que tanto abominamos?

Certa vez ouvi alguém dizer: “só existe o golpista porque existe o trouxa”. Essa mesma lógica pode ser usada para outras situações, afinal, só existe o egoísta (aquele que recebe mais do que dá) porque existe o generoso (aquele que dá mais do que recebe). 

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