Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Medo da vida fora de casa

02/06/2021 às 20:32.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:05

Para a maioria das pessoas, a casa é sinônimo de proteção. Este ambiente confiável e seguro onde passávamos pouco tempo tornou-se o lugar de maior permanência para muitos desde o início da pandemia. Muitos de nós trouxemos escola e trabalho para nossos lares, com isso desenvolvemos mais o hábito de fazer atividades sem precisar sair: compras on-line e solicitar comida, atividade física e outros.
 
A verdade é que nunca passamos tanto tempo dentro dos nossos lares. Enquanto muitos sofriam com o isolamento, outros adoraram pois não precisavam de interagir socialmente, nem enfrentar trânsito, ambiente de trabalho, colegas de aula e outras situações. 

Ocorre que atualmente vislumbramos a possibilidade de retornarmos à vida fora de casa e, com isso, os problemas de saúde mental que acometeram muitos no início da pandemia mudaram. Antes era o medo era de ficar em casa, de perder o emprego, não ter dinheiro, suportar familiares, administrar os filhos. Atualmente, o medo é da vida fora de casa.
 
Estamos vivendo a “síndrome da gaiola” - uma associação feita ao passarinho que vive muito tempo trancado e quando a porta da gaiola é aberta, ele permanece lá dentro por medo do que encontrará do lado de fora. Mesmo estando solto, ele não quer sair. 

Isso não é algo novo, sempre existiu, mas agora se intensificou e fez morada. Para aprofundarmos um pouco mais nessa questão, precisamos ter em mente que o medo de "sair da gaiola” pode ser  irracional ou real.

O primeiro tem a ver com as fobias - um medo paralisante que faz com que o indivíduo tenha uma postura evitativa em praticamente todas as situações sociais. Dessa forma ele evita lazer e situações que exijam exposição com outras pessoas, pois o desconforto é tão grande que gera sintomas físicos como taquicardia, sudorese, gagueira, tremor, respiração ofegante. Uma espécie de estado de alerta pela iminência de algo grave. Devido a todo esse sofrimento, muitos acabam se isolando e vivendo uma vida com limitações. Além disso, o fóbico tem que lidar com pensamentos catastróficos onde vislumbra situações ameaçadoras e negativas. Essa sensação é muito associada à síndrome do pânico, pois ambas se manifestam de formas muito parecidas. 

Muitas pessoas, querendo entender melhor o problema, questionam: “medo de quê?”. Eis a questão: não há uma exatidão para mapear o medo. É medo subjetivo. Medo emocional. Medo do medo. Não há como explicar. Por isso a fobia se define pelo medo irracional. 

Contudo, agora, também estamos vivendo o medo real. Medo de contrair e ou transmitir o vírus. E isso faz com que, mesmo com a porta da gaiola aberta, como no caso das escolas, muitos não queiram voltar.
 
Dessa forma, respeitar nossos limites é um ponto crucial. Precisamos dessensibilizar avançando um degrau de cada vez até conseguirmos retomar, sem grande ansiedade, nossas atividades rotineiras e a interação social. 
 

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