Final do ano é uma época em que muitos param para fazer uma reflexão, uma especial de balanço de suas vidas. Mas esse ano o balanço é um pouco diferente. Vivemos algo jamais ocorrido nessa geração.
Muitas pessoas gostaram das oportunidades que tiveram; outras, se reinventaram, e outras sofreram drasticamente com o impacto negativo que a pandemia trouxe,
desde perda de emprego até de entes queridos.O fato é que a vida nos colocou frente ao seu maior princípio: o da impermanência. Todos saímos da famosa zona de conforto na qual estávamos rotineiramente instalados. E quando nos referimos a “conforto”, isso não quer dizer que era de bom, mas sim, um lugar conhecido, não
necessariamente confortável.
Aliás, é importante ressaltar que muitas vezes nossas zonas de conforto são lugares péssimos. Mas, por temer a mudança (o desconhecido), optamos por ficarmos onde estamos. Não paramos para pensar que temos dois tipos de dores nessa vida: as inevitáveis, como morte, doenças, tragédias, pandemia e as evitáveis, como casamentos ruins, amizades falsas, empregos abusivos. Conseguir lidar bem com as situações inevitáveis da vida é grande demonstração de força. Já suportar dor que poderia ser modificada caracteriza fraqueza emocional.
O interessante é que quando estamos dentro de uma dor evitável costumamos nos munir de justificativas para nos manter ali, parados. E os motivos geralmente são
emocionais:Medo: internamente pode existir um receio de que a mudança venha trazer uma condição de dor maior. Com isso, por medo de senti-la, optamos por continuar onde estamos pois, de certa forma, já nos habituamos àquele sofrimento.
Preguiça: geralmente está associado a uma anedonia (falta de prazer, combustível para mudança). Há uma tendência a inércia pois dessa forma não é preciso muito
esforço, alteração, favores, solicitação, e tudo que decorre de uma mudança.
Soberba: evitação à aprendizagem atrelada a uma sensação de que sabe-se tudo e que não há nada mais para melhorar. Nesse caso,mesmo estando ruim, o indivíduo, por arrogância, se convence de que já conhece todos os caminhos e que não há nada melhor do que onde ele está.
Incapacidade de antever: muitos não mudam porque não conseguem prever a vantagem que deriva dessa mudança. Curiosamente, desenvolvem um olhar mais pessimista, o que faz acreditar que a mudança será desastrosa. Uma lástima! Geralmente é sempre melhor.
Esse ano, de tão atípico, não tivemos opção, tivemos que suportar uma grande dor inevitável, mudar hábitos e alterar comportamentos. O que ganhamos com isso? Só perceberam ganhos aqueles que conseguiram olhar para dentro de si.