Nascemos sob o estímulo de que para ser uma pessoa feliz, realizada e de sucesso, precisamos estudar, trabalhar, casar, ter filhos, comprar uma casa, um carro, ter ambições financeiras crescentes, constituir patrimônio, ter netos e morrer.
Há quem, por estímulo, por vocação ou até mesmo por uma parcela de sorte, consiga todos ou a maioria dos itens listados, mas é preciso uma certa sabedoria para conseguir separar o que de fato queremos para nós daquilo que nos foi colocado como modelo de uma vida perfeita.
Primeiramente é preciso ressaltar que o molde social, além de não servir para todos, também não é garantia de felicidade. É preciso separar e quebrar alguns conceitos tão profundamente enraizados que podem nos levar a grandes equívocos e a muitos preconceitos. Como por exemplo:
Quem não tem filhos não é feliz - e isso recai basicamente sobre a mulher, como premissa para que ela se sinta completa. Aquela que opta por não ter filhos é vista como frustrada, traidora do contrato social e/ ou religioso ou egoísta. Alias, é exatamente o contrário, querer ter um filho só porque “manda o figurino” ou para não ficar sozinho na velhice é grande demonstração de egoísmo. A menina é basicamente educada para ser mãe e quando cresce e não percebe esse interesse se debate, num misto de sentimento de culpa com vontade de que a vontade surja. “Quer querer” o que no fundo não quer.
Outras procuram terapia para saber o que há de errado consigo - já considerando que a possibilidade de não querer um filho é um erro. É inegável que o amor que surge após a maternidade é até então desconhecido e muito intenso, sobretudo quando recém-nascidos; mas é igualmente inegável que junto com os filhos vêm também as preocupações, responsabilidade e eventuais problemas. Não deveríamos divulgar com tanta veemência que ter um filho é essencial para a completude de uma mulher, pois nem tudo que cabe para um é cabível para outro.
Quem não casou tem algum problema - outro grande preconceito é acreditar que quem não casou é infeliz ou tem uma vida solitária; ao contrário, o que muito se queixa é de solidão a dois. É incrível como que, nos dias de hoje, ainda exista tanto preconceito contra as pessoas que seguem solteiras. O casamento, que antigamente era algo quase obrigatório, agora não é mais. E é cada vez maior o número de pessoas que optam por viverem sozinhas e fazem isso por opção e não por falta dela. Mas existe um pensamento muito arraigado de que todo mundo quer casar, e isso não é verdade. Portanto, outro preconceito a ser quebrado, principalmente por parte dos homens em relação as mulheres. A ideia de que gente solteira é infeliz deriva da nossa cultura casamenteira, que convencionou que só há felicidade a dois. Mas, se isso fosse verdade, todos os casados estariam muito felizes. Não é o que vemos.
Quem não tem grandes ambições materiais é preguiçoso - novamente aqui vale o ditado “o que serve para um não serve para o outro”. Muitos, principalmente aqueles ambiciosos, julgam e recriminam quem não quer crescer. E não me refiro àquelas pessoas que vivem nas costas dos pais, do assistencialismo ou que passam necessidade, e sim àqueles que optam por viver de forma mais modesta. Apesar de dinheiro não garantir a felicidade, a falta dele é grande gerador de infelicidade.
Há quem tenha conquistado um determinado nível, onde se considera satisfeito e valoriza mais o tempo livre e o prazer do que o crescimento profissional. Não há nada de errado em não querer acumular riqueza. Aliás, nossa felicidade depende muito mais do que temos na nossa cabeça do que no nosso bolso.
Quebrar o ideal de felicidade imposto socialmente e investigar o que de fato nos serve é ideal não só para nossa felicidade quanto para nossa sanidade mental.