O mal do século parece ser a ansiedade. Essa é uma queixa recorrente, seguida de alta irritabilidade. Parece que o momento é de pouca paciência e muita ânsia pelo porvir. Quase ninguém está suportando coisas rotineiras da vida como filas, trânsito, lentidão do prestador de serviço, etc. A sensação que temos é a de que vamos morrer de raiva.
Essa sensação de urgência está intimamente ligada à vida moderna. Mas será certo afirmar que antigamente as coisas eram melhores? Em relação a esse aspecto, sim. Há 20 anos nossa capacidade de esperar era amplamente exercitada. Um bom exemplo disso eram as cartas que escrevíamos para nossos amigos e familiares que moravam em outras cidades. Essa atividade implicava em escrever manualmente, muitas vezes em rascunho, passar a limpo e enviar pelo correio e, após isso, esperar, por tempo indeterminado, uma resposta. A esse movimento não cabia ansiedade, apenas o exercício da espera paciente. Outro exemplo eram as fotografias. O processo era composto de várias etapas: comprar o filme, tirar todas as fotos, enviar pelo correio e se contentar com a imagem revelada. Não havia chance de repetir a pose. Não tinha a busca pela imagem perfeita.
Estava implícito na dinâmica daquela época o exercício de aceitar docemente as condições oferecidas. Isso, por si só, já proporcionava sensação de calmaria. Além disso, a dificuldade em alcançar as coisas proporcionava um sentimento de gratidão espontânea no ato da conquista. Atualmente, a realidade é o inverso; a facilidade atrelada à quantidade de opções ofertadas proporciona um sentimento de permanente insatisfação.
Do ponto de vista da tolerância, estamos piores. Melhoramos na informação, nos acessos e isso me faz lembrar um ditado popular que diz: “A ignorância é uma bênção”, mas esta não é a minha opinião. Concordar com essa premissa seria condenar o conhecedor à infelicidade. O que não é verdade.
Ignorância significa ausência de conhecimento e desconhecer não significa isenção. Por exemplo: um motorista que não sabe que é proibido parar em determinado local não está isento da multa. Uma pessoa que desconhece os malefícios do cigarro não está imune ao prejuízo que isso traz. A ignorância é como uma mão anestesiada que vai ao fogo: em princípio não se sente a dor, mas isso não significa não sofrer as consequências da queimadura. A ignorância pode aliviar temporariamente, mas não salva.
A vida moderna é um convite à intolerância e ansiedade, sim. Mas há como sair desse círculo vicioso. Um bom começo pode ser cuidar bem da parte física pois uma mente sã funciona melhor num corpo são: exercícios diários ajudam a queimar as substâ ncias do estresse que o corpo produz. Alimentação saudável também impacta diretamente na qualidade de vida. Prezar pela qualidade do sono, respeitar o limite da capacidade de trabalho, não abusar do álcool, não usar drogas, resolver os conflitos à medida em que eles aparecerem e não deixar acumular problemas debaixo do tapete.
Do ponto de vista emocional, é preciso desenvolver um nível de consciência suficiente para administrar, com serenidade, as frustrações que a vida forçosamente nos impõe e lidar com paciência e aumentar a nossa tolerância. O maior beneficiado somos nós.