A maioria de nós já esteve em situações onde gostaríamos de ter dito “não”, mas evitamos dar essa resposta e acabamos fazendo aquilo que não gostaríamos e, para amenizar, acabamos falando para nós mesmos que “não custa nada” fazer determinados sacrifícios em prol do outro.
A questão é que mentimos para nós para encobrir a dificuldade em nos posicionarmos frente aos outros. Dizer “não” significa negar a demanda da outra parte e isso pode nos deixar desconfortáveis, não pela negativa do pedido, mas sim pelas consequências disso: essa recusa pode significar um rebaixamento do nosso prestígio na opinião do outro e essa preocupação faz com que nos submetamos aos desejos do outro. Uma prisão emocional.
Muitos sofrem com essa fragilidade e uma das razões tem a ver com a culpa. Nos sentimos culpados quando podemos atender o desejo do outro, mas não estamos dispostos a fazê-lo. Nos sentimos mal por acreditar que somos uma pessoa egoísta ou má, pois podendo dizer sim, optamos pelo não. Apesar desse sentimento ser muito comum, ele deriva de uma lógica totalmente invertida onde o desejo do outro tem uma importância maior que o meu.
Outro motivo que fomenta essa fragilidade tem a ver com o medo da rejeição. Para sermos aceitos, queridos e bem cotados no imaginário do outro, evitamos frustrar quaisquer expectativa alheia. Agimos assim para mantermos nossa “boa reputação, isso significa que nos preocupamos e muito com que o outro pensa de nós, mesmo que afirmemos o contrário.
Esse medo de perder o prestigio tem vínculo direto com a nossa baixa autoestima. Quando temos a sensação de menos valia, nos sentimos estranhamente devedores do outro. Dessa forma, atender a solicitação é quase uma obrigação, uma espécie de pagamento de dívida.
A autoestima baixa é um péssimo termômetro, pois faz da pessoa um “doador ilimitado” e pior, sem necessidade de contra partida. É como se ele fosse regido por uma premissa de não merecimento: eu não mereço receber ao mesmo tempo que preciso servir para me sentir melhor.
Outro motivo da dificuldade em falar “não” pode ter a ver com a vaidade, que também esta ligada à sensação de menos valia. Pode parecer contraditório, mas a baixa autoestima tem duas formas opostas de se manifestar: uma é a subserviência e a outra é o narcisismo. Ambas derivadas do mesmo lugar: complexo de inferioridade.
Portanto pessoas vaidosas, narcisistas, que gostam de aparecer, receber confetes e fingir falsa modéstia também adoram atender aos desejos dos outros. Gostam de atender os favores para que todos fiquem devotos da sua bondade e assim ele passe a protagonizar um papel determinante na vida das pessoas. Mas a base dessa presteza não é o altruísmo e sim o status que isso proporciona.
A dificuldade em dizer “não” é complexa e vai muito além de querer ser aceito. Entretanto, a verdade é uma só: quando falamos “sim” querendo dizer “não” nos violentamos silenciosamente.
Evoluir nisso significa ter um pacto de fidelidade consigo mesmo –uma atitude madura, que reflete na nossa saude mental e nos fortalece emocionalmente. Não há receita pronta para este aprendizado, basta ter coragem para se posicionar de forma honesta e bancar as consequências disso que é sempre menos dramática do que imaginamos.