A queixa sobre a dificuldade em se concentrar é algo recorrente na atualidade. Muitas pessoas estão insatisfeitas com a falta de foco nas atividades cotidianas como leitura, prestar atenção numa aula, ou até mesmo um assunto mais longo, e até conseguir ver um filme inteiro sem interrupção. O curioso é que conseguimos, com facilidade, ficar horas rolando o feed de uma rede social. O que está acontecendo com a nossa capacidade de se concentrar?
Um estudo recente feito pela professora de informática da Universidade da California e também autora do livro “Attention Span”, afirma que o tempo médio de foco para indivíduos olhando para uma única tela caiu de 2,5 minutos em 2004 para uma media de 47 segundos em 2021. Ou seja, nossa capacidade de prestar atenção caiu quase 70% em 17 anos, uma marca assustadora.
Penso que essa queda se deve basicamente a dois fatores.
Um deles são os estímulos externos. Com o advento da internet e redes sociais, temos o algoritmo trabalhando para desviar nossa atenção a todo momento. Pesquisamos por algo e ele passa a nos perseguir. Falamos sobre um assunto e somos ocultamente ouvidos pelos nossos dispositivos que vão fisgando nossa atenção e nos entregando aquilo que é de nosso interesse. Essa é uma luta muito desonesta onde perdemos na maioria das vezes para a plataforma programada para vencer e tornar mais viciantes ainda assim como as máquinas dos cassinos.
Outro fator que contribuiu para o encurtamento do foco é falta de exercício mental derivada das facilidades tecnológicas que tem nos deixado cada vez mais preguiçosos. Não precisamos usar nosso cérebro nem nossa memória, pois tudo isso os aplicativos fazem por nós. As pesquisas rápidas no google nos desobrigam a armazenar a informação, afinal de contas, se precisar, poderemos fazer novas buscas. Não precisamos lembrar de datas comemorativas, aniversários e nem números de telefones, pois as agendas fazem isso por nós. Para escrever um simples texto temos não só a inteligência artificial, como também palavras sugeridas no teclado.
Outra invenção que facilitou muito nossa vida, mas que eliminou nossa capacidade de pensar, foi o GPS, que desenha o caminho para o motorista. Os carro também trazem consigo avançadas tecnologias que freiam, aceleram, te lembram de ligar faróis, ajudam a estacionar, medem espaço tirando de nós esse esforço.
É inegável que esses avanços facilitaram em muito a nossa vida, mas não ha como negar que também contribuiu para a economia do exercício mental. Não precisamos pensar, a maquina faz isso por nos. Viramos reféns incapazes de viver sem esse auxilio. A combinação dos estímulos com a falta de exercício mental está prejudicando sobremaneira a nossa concentração, memória e foco.
Reverter esse processo é possível, mas requer uma estratégia: não conseguimos voltar ao tempo na época em que tínhamos agendas de telefone escritas a mãos, o que alias, nos ajudava a memorizar os números, mas, podemos tentar armazenar ao menos alguns números na memória.
Se não conseguimos ver um filme inteiro sem mexer no celular, podemos dividi-lo em 3 partes e usar essas pausas como usávamos os intervalos das novelas para ir ao banheiro, pegar algo e retornar à concentração.
Se for dirigir por caminhos já conhecidos, tente usar a mente ao invés do GPS; se a dificuldade da leitura está impedindo de ler um livro, comprometa-se com duas paginas diárias.
Quanto mais concentração e memória você tem, mais seguro você se torna.