Silenciar frente a uma situação de conflito pode ser tanto sinal de maturidade quanto de perversidade. É preciso analisar o poder (negativo e positivo) do silêncio com muito cuidado e atenção.
Em determinadas situações o silêncio vale ouro, evita conflitos e mantém relações. Certas discussões não compensam o desgaste, por exemplo, quando estamos frente a alguém de opinião radical, que não consegue considerar um pensamento diferente do seu e tende a levar como pessoal qualquer ideia que difira da sua. Nesse caso, silenciar é uma decisão sábia.
O silêncio também é cabível quando aquilo que vou falar é ofensivo. Há pessoas que se orgulham da sua franqueza. Quando a sinceridade está a serviço de ferir o outro, deixa de ser uma virtude.
Outro silêncio positivo é quando conseguimos frear opiniões não solicitadas, como por exemplo: isso não vai dar certo, você engordou; você está com cara de cansado; você é doido; eu avisei, etc.
Conseguir silenciar a fofoca também pertence ao silêncio construtivo. Aliás, uma reflexão apropriada para silenciarmos são as três peneiras socráticas.
Certa vez, um rapaz procurou Sócrates e disse que precisava contar algo sobre alguém. Sócrates perguntou: O que você vai me contar já passou pelas três peneiras? Então ele explicou.
A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer me contar do outro é um fato? Caso tenha ouvido falar, a coisa deve morrer aqui mesmo. Mas suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou a destruir o caminho e a reputação do próximo? Mas se o que você quer contar é VERDADE e é coisa BOA, deverá passar ainda pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma coisa? Contribui com a comunidade ou pode melhorar o planeta.
Então finaliza o filósofo: se passou pelas três peneiras, conte, pois eu, você e o outro iremos nos beneficiar. Caso contrário, guarde para você.
Mas nem sempre o silêncio é positivo. Há momentos em que ele é destrutivo, opressor e destrutivo, por exemplo quando ele cumpre a função de castigar o outro.
Algumas pessoas usam o mecanismo do silêncio para expressar sua raiva ou insatisfação. Um método punitivo de teor infantilizado e nada produtivo do ponto de vista do crescimento emocional.
Estabelecer um diálogo saudável frente a uma situação de conflito não é nada fácil, especialmente quando os interesses e opiniões são completamente divergentes.
Mas, se ao invés de dialogarmos, optarmos pelo silêncio, a única coisa que iremos conseguir é um distanciamento emocional. Jogar a poeira embaixo do tapete não faz com que ela desapareça. Ao contrário, só acumula sujeira, que, com o passar do tempo, pode se tornar em algo de difícil remoção.