Talvez a maioria de nós concorde com o fato de que quanto mais opções temos, melhor tende a ser a nossa escolha. Ou seja, dentre várias, escolheremos a mais satisfatória de todas. Esse é um pensamento lógico, que na prática não funciona dessa maneira. Um psicólogo estadunidense, professor e estudioso do tema, cunhou o termo “paradoxo da escolha” e defende a tese em seu livro homônimo: quanto mais opções temos, maiores são as chances de escolhermos mal ou até de ficarmos paralisados e não sairmos do lugar.
Num simples exemplo conseguimos constatar a questão. Quando estamos numa prateleira de supermercado cheia de opções de sabão para lavar roupas, onde temos o líquido, o em pó, o concentrado, o que lava roupas brancas, as coloridas, os de 1 litro, os de 3 litros. E não só uma, mas no mínimo 5 marcas diferentes trazendo promessas das mais sedutoras. Os preços também variam de acordo com a proposta. Custamos a decidir por um. Isso tudo continua na prateleira ao lado, que traz várias marcas de papel higiênico com folha dupla, tripla, suave, soft, metragens diferentes e preços idem. Já não sabemos mais qual o melhor custo-benefício e isso ocorre também com os doces, chocolates, cafés, vasilhames etc.
Quando queremos comprar uma roupa, nos deparamos com o mesmo cenário, sobretudo a moda feminina que oferece detalhes como cós alto, médio e baixo, cor preto claro, preto fosco, preto piano, ou desbotado com tecido íntegro ou destroyed, como é chamada a roupa com rasgos. Tantas opções que é muito comum o consumidor sair para comprar uma peça e voltar com três, e, pior, ficar pensando que deveria ter comprado a outra que ficou para trás. Um sofrimento e um sentimento de que não escolheu bem.
Quando essas questões ocorrem com itens de supermercado e vestuário, o dano causado é o de ordem financeira e desperdício de tempo. O problema maior acontece quando essas opções são relacionadas à vida pessoal. Em qual cidade vou morar? Fazer intercâmbio nos EUA, na Europa ou não fazer? Aceitar a proposta de emprego ou continuar buscando outra? Namorar, casar, manter-se solteiro ou as 3 opções concomitantemente?
Esse paradoxo gera, portanto, dois grandes problemas: o primeiro é o impacto na vida e na rotina da pessoa que fica constantemente na dúvida pensando o que fazer, gastando seu tempo, descanso, comprometendo a capacidade de concentração pois a cabeça fica sempre conectada com a questão. Tudo isso é uma grande fonte geradora de ansiedade. Importante ressaltar que essa inquietude nem sempre passa quando a escolha é resolvida. Numa segunda etapa o sofrimento ocorre devido ao questionamento de ter feito ou não a melhor decisão. O pensamento sabotador tenta, de toda forma, convencer o indivíduo de que ele fez a escolha errada. Uma tortura psíquica.
O segundo problema tem a ver com o “mundo líquido” do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que descreve a era atual como volátil, instável, onde tudo e todos são facilmente descartados sem nenhum compromisso ou responsabilidade. Devido a isso, os laços são frouxos e ninguém quer despender esforços para manter uma relação afetiva, um emprego, um combinado sequer. Não se conserta mais. Não deu, troca.
É importante estarmos atentos às escolhas que o mundo moderno nos apresenta para não entrarmos nesse paradoxo que oscila entre sofrimento e o egoísmo.