Muitas vezes desejamos profundamente mudar algo em nosso comportamento. Juramos não querer trilhar mais o caminho que, notoriamente, nos traz graves prejuízos. A intenção é verdadeira, a vontade de mudar existe, contudo, ainda assim, não saímos do lugar. Nem sempre por nossa culpa, mudar é realmente algo muito difícil.
É comum, ao pensar em mudar, planejar algo grandioso. Assim como alguém que deseja começar a fazer atividade física e se matricula na academia, contrata o plano master anual, compra roupas para essa finalidade, calçados, e simplesmente o plano não sai do campo da imaginação. Fala-se muito, planeja-se muito, mas na prática nada evolui.
Isso ocorre porque muitas vezes nos superestimamos considerando que somos capazes de tudo, basta querer. O fato é que não somos tão poderosos assim. Entre querer e fazer há uma longa distância. E precisamos considerar isso.
Mas afinal de contas, por que é tão difícil colocar um plano em prática e mudar um comportamento?
A mudança vai muito além da nossa vontade. Mudar requer esforço, disciplina, privações, determinação e várias outras atitudes imediatamente desprazerosas. Não é fácil quebrar a inércia e abandonar padrões repetidos por anos. Além disso, é preciso lidar com a possibilidade do fracasso e algumas pessoas, por não se permitirem errar, temem inconscientemente a mudança por receio de não dar conta dela. Preferem ficar onde estão, em zonas conhecidas.
Outra questão que dificulta a mudança é o fato de ela não vir de apenas uma atitude. Para mudar um único comportamento, é preciso mudar no mínimo outros três. Por exemplo, quem almeja ser mais tolerante tem que aprender a ampliar a empatia, se despir do ego e exercitar a compaixão. Para aprender a dizer “não” é preciso estar preparado para lidar com a vergonha, a culpa, o remorso. Para ser mais calmo tem que estar disposto a fazer concessões, ter paciência e saber esperar. Mudar dar trabalho e passa antes pela humildade emocional e amor próprio. Aos menos resistentes, a ajuda terapêutica é de grande valia.
Ao contrário do que diz os manuais da felicidade, mudar não é apenas uma questão de “escolha”. Dizer que a “decisão” já é meio caminho andado é um equívoco. Se fosse assim seria fácil fazer dieta, parar de fumar, terminar relacionamentos doentios e assim por diante. Na verdade, “decidir” talvez seja o passo mais importante por ser o primeiro, mas em termos de resultado não altera em nada. Após a tomada de decisão, começa um árduo caminho pelo qual não se sabe andar. Um caminho novo que, embora promissor, causa medo, insegurança e dor.
Para aqueles que almejam mudar é bom ter em mente que mudança não obedece comando de voz e muito menos aos bordões do otimismo, é preciso esforço para vencer a luta entre duas forças poderosas: a razão, que sabe que a mudança é necessária, e a emoção, que reage contra a decisão como um impulso involuntário.