Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Por que sofremos tanto?

Publicado em 26/10/2022 às 06:00.

O sofrimento é uma dor subjetiva, não sabemos muito explicar. Vem como uma angústia, aquela sensação de incômodo, uma “dor no peito”, como muitos gostam de definir. Deriva de algum desalinho interno, no qual, sem saber o que fazer, o indivíduo traduz essas incertezas para o emocional. A partir dai há uma visível perda de energia, não há ânimo para com a vida e tudo fica penoso: trabalhar, estudar, se divertir. Aliás, a perda do prazer impossibilita, muitas vezes, a diversão. O indivíduo em sofrimento profundo entra numa apatia, querendo evitar, ao máximo, o movimento. 

Claro que as dores existenciais podem ser de categoria leve, moderada ou intensa, e quando vêm mais brandas, não impossibilitam o indivíduo de viver a vida, somente comprometem a boa qualidade dela. 

Mas por que somos tão complexos e nos envolvemos em dores emocionais de tamanha magnitude? Algumas são as minhas sugestões:

Apego: nos apegamos a algo como se fôssemos donos. Quando aquilo já não nos pertence mais, atestamos equivocadamente a nossa incompetência ou nos sentimos ofendidos mediante aquela perda. Quanto maior a luta para reverter a perda e manter o apego, maior o sofrimento. 

Dificuldade de aceitar as coisas como elas são: a dificuldade em aceitar a vida traz, além de sofrimento, uma perda constante de energia. As pessoas que não aceitam com docilidade as questões inerentes à existência ou as dores que a vida forçosamente nos impõe, entram num modo iracundo de indignação; fonte permanente de sofrimento.
 
Dificuldade de aceitar as pessoas como elas são: igualmente em relação às coisas está a dificuldade em aceitar as pessoas como elas são. Mas é importante ressaltar que aceitar não significa concordar, e sim, aceitar o fato de que as pessoas são diferentes e que, portanto, cabe a mim determinar a minha relação com aquela pessoa. Quem não aceita o outro como ele é incorre em dois erros: ou a ilusão de que ele irá mudar com o passar do tempo, ou a luta, já perdida, de que irá evoluir o outro. Ambos caminhos são angustiantes. Não estou com isso desacreditando da evolução das pessoas. Porém, esta somente ocorre quando a própria pessoa deseja e mesmo assim com muito empenho. 

Autopunição: a culpa é uma das emoções mais negativas. Ela nos aprisiona a uma autopunição que não serve para nada, a não ser para eu garantir, para mim mesmo, que sou uma pessoa boa. A culpa é injusta e impiedosa; não distribui o débito a todos os devedores. Ao contrário, atribui a uma única pessoa o peso de toda a dívida. Uma maneira de trabalharmos a eliminação da culpa é mudarmos a perspectiva: ao invés de paralisar na autocensura, é melhor focar na experiência aprendida. Usar o erro para crescer, não para se punir.
 
Para evoluirmos emocionalmente precisamos aprender a dominar aquilo que nos domina. Sermos mais tolerantes, mais pacíficos, nos aborrecer menos com as diferenças, aumentar a autonomia emocional, ter maior autoestima. Avanços dessa natureza promovem intensa satisfação pessoal, sentimento de paz e diminuem sobremaneira a sensação de sofrimento.

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