Nossas relações são marcadas, muitas vezes, por desentendimentos e conflitos. Sempre que nos sentimos decepcionados ou ofendidos por determinadas posturas vindas de pessoas que amamos aflora em nós sentimento de tristeza e frustração. É como se estivéssemos sendo traídos.
Em muitos casos, sobretudo aqueles que não são bem conversados, esclarecidos, essa tristeza pode evoluir para algo pior: mágoa.
Um indivíduo se torna mais ou menos sensível a esse sentimento quantas vezes mais ele os vivenciar. Ou seja, quanto mais machucado, mais fragilizado. Isso porque nossa memória emocional armazena principalmente as experiências ruins, numa “gaveta” mental, e, a cada novo golpe, essa gaveta é aberta e todas as mágoas anteriores são reeditadas.
Um subproduto da mágoa é o ressentimento. Nem sempre ele ocorre, mas, dependendo do traço de personalidade de uma pessoa, ela não consegue esquecer o ocorrido e fica “ruminando” mentalmente, nutrindo ainda mais os sentimentos ruins.
Em meio a tudo isso, há o perdão. Um sentimento difícil, mas aliviante para quem o pratica. Perdoar significa deixar a mágoa para trás e seguir em frente. Não há mais ressentimento, nem cobrança. É como abrir mão do pagamento de uma dívida.
Não é fácil. Como diz o ditado: “quem bate esquece, quem apanha, não”. A ferida sentida em quem apanhou nunca será percebida da mesma forma por quem a provocou. Nem sempre um pedido de desculpa ressarce o dano. Uma quebra de confiança, por exemplo, é uma mácula difícil de ser apagada. Mas isso não significa que não possa ser perdoada e reconstruída. Mas para isso é preciso da contribuição de todos, principalmente de quem errou, pois o perdão é uma via de mão dupla: quem foi ferido deve querer perdoar, e quem feriu precisa ter o “comportamento dos arrependidos”.
Há aqueles que se sentem verdadeiramente arrependidos, são bem intencionados e fazem de tudo para não repetir a postura que magoa – a maioria das vezes conseguem. Porém, há quem se arrependa superficialmente, um arrependimento estratégico que visa não perder aquilo que se tem. Este segundo grupo costuma teatralizar um remorso que não sentem, às vezes choram e até se humilham em busca do perdão, mas não mudam, pois no fundo acreditam que merecem ser desculpados de todos os erros sem contrapartida sincera.
É comum pessoas com dificuldade em perdoar serem mal vistas ou chamadas de “frias” por parte de quem deseja o perdão. Mas isso é um equívoco. A incapacidade de perdoar aprisiona, mas não torna ninguém ruim, afinal se há alguém ferido é porque existe um causador. E, este sim, foi o autor do dano.
Mas quem não perdoa acaba guardando tudo de mal que lhe ocorreu e costuma se tornar uma pessoa mais revoltada e amargurada com a vida. Já aqueles que perdoam se sentem mais livres - portanto, mais leves. Mas convém lembrar: perdoar não é esquecer e sim conseguir transformar aquilo que nos magoou numa memória "fria", desprovida de sentimentos.