Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Quando a ansiedade vira crise

Publicado em 13/04/2023 às 06:00.

Cada vez mais pessoas famosas vêm a público falar sobre suas doenças mentais, algo que contribui muito para desmistificar e reduzir os preconceitos que ainda temos com as “doenças invisíveis”. 

O transtorno de ansiedade generalizada, conhecida como TAG, e a síndrome do pânico são muito semelhantes em seus sintomas e ambas trazem consigo um medo inadministrável da morte. O diagnóstico se baseia na presença de pelo menos quatro dos seguintes sintomas: taquicardia, sensação de falta de ar, sensação de que está morrendo, náusea, tontura, sudorese, tremor, formigamento das extremidades, medo de enlouquecer e a sensação de estar fora do controle sobre si. Apesar de a maioria dos sintomas de uma crise serem físicos, ela só ocorre em função de problemas emocionais, mais precisamente de pressões, preocupações e medos. 

A soma desses sentimentos ao longo do tempo destrói a saude mental do indivíduo, deixando-o tal como um terreno fértil para a doença se instalar e crescer. É preciso entender que quando ocorre uma crise o problema já existe há muito tempo. Isto é, passamos anos adubando uma preocupação ou escondendo um medo acreditando que jogar poeira por baixo do tapete faz com que ela desapareça. Isso não acontece. Aliás, o que ocorre é o contrário. A doença se desenvolve à espreita, despoja o afetado de lucidez, fazendo com que ele finja para si mesmo que está no controle até que a situação não se sustenta mais. A crise é um sinal vermelho quando o amarelo não é respeitado. 

Há ainda uma fase em que o indivíduo acredita que tem um problema físico, geralmente cardíaco. Faz isso num ato inconsciente de negar a presença de doença metal, se recusando a acreditar que seus sentimentos é que são geradores de tamanho mal-estar. Mas enquanto não se assimila essa verdade não é possível tratar a doença. 

Assim como na nutrição somos o que comemos, na psicologia e na psiquiatria não é diferente, somos o que sentimos e pensamos. Uma pessoa que está com constante sentimento de medo (de ser rejeitado, medo de ser demitido, medo de ser traído, medo do abandono, medo do ridículo, entre outros), está sempre usando o limite do corpo para combater tal sentimento e portanto esgotando reservas importantes.

Além da fadiga que é gerada, quando o medo passa, há uma sensação de alívio para, em seguida, sentir o medo novamente, um ciclo altamente viciante. 

O mesmo ocorre com o sentimento de preocupação: o indivíduo entra numa espécie de vigília na expectativa de uma possível tragédia, esgota o corpo, a mente, gera insônia, desregula o apetite e quando passa, o alívio vem seguido de nova preocupação. Uma total ausência de paz. 

Para mudar esse comportamento tão autodestrutivo não basta querer. É preciso caminhar na direção diametralmente oposta ao que se está acostumado. Fazer um mergulho honesto dentro de si, desapegar dos pensamentos viciados e abrir espaço para o novo. É sabido que exercício físico é um santo remédio para ansiedade e, para os menos resistentes, a terapia também é muito bem-vinda. 

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