Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Quando eu não sou eu

Publicado em 05/01/2023 às 06:00.

A maioria dos nossos dejetos emocionais tem a ver com vivências que sentimos na infância. Uma sensação de desamor, abandono, inferioridade, comparação entre irmãos, a luta para ser enxergados e reconhecidos pelos pais faz com que aquela criança inicie um processo longo de busca de aprovação que cresce, ao longo do tempo, criando forças e artimanhas sofisticadas na vida adulta.

É a partir dessa falta dolorosamente sentida que deformamos nosso verdadeiro “eu” em busca de ser aceito ou ao menos não ser rejeitado. Acabamos por nos distanciar de quem somos para nos transformar naquilo que acreditamos que irá agradar mais os outros.

Fazemos isso no trabalho, nas amizades, algumas vezes em família e muitas vezes no amor. Escondemos quem somos, o que queremos, e vestimos uma segunda pele que finge comportamentos e mente até para si mesmo.

Quanto mais agimos assim, mais destruímos nossa autoestima e mais acumulamos dejetos emocionais que, mais tarde, cobraram um preço altíssimo. Aos que se consideram presos nesse tipo de comportamento e querem caminhar rumo à evolução emocional, alguns aprendizados são fundamentais:  

Aprender a dizer “não”: por medo do que o outro vai pensar ou sobre qual juízo de valor fará a nosso respeito adquirimos um pavor de negar algo. Assim seguimos ora aleitando o que não queremos, ora enrolando até o ultimo momento lutando com a dificuldade de falar e a vontade de que aquela demanda desapareça sozinha. Uma evidente fragilidade. Aquele que se posiciona com clareza , falando “não” e bancando o resultado disso, alem de passar uma melhor impressão ao outro, ainda cresce sua confiança interna. Se posicionar pode parecer difícil, e é. Mas, a medida que conseguimos caminhar alguns passos, nos fortalecemos cada vez mais e vencemos essa enorme dificuldade.

Perder o medo da rejeição: uma coisa é querer causar uma boa impressão através de boas condutas, outra coisa é, por insegurança, assumir o papel de “bonzinho”, ter medo de desagradar. Viver dessa maneira é invalidar a própria essência para desempenhar um papel. Uma frase de Shakespeare em Hamlet: “seja fiel a si mesmo e jamais precisará ser falso com ninguém”.

Ser mais pratico e decidido: não saber o que quer é abrir oportunidade para que os outros, ou as circunstancias escolham por você. Ou seja, é deliberar o comando daquilo que você pode escolher para o outro. Uma fragilidade e autoanulação travestida do nobre comportamento do “tanto faz pois para mim tudo está bom”. Uma mentira.

Não deixar de fazer algo por medo do fracasso: escolher a nulidade à possibilidade de fracassar é jogar contra si próprio. Quem tenta, mesmo não acertando, sente-se melhor do que aquele que, por medo, recua covardemente.

Quanto mais desvestimos dos medos e das mascaras, mais caminhamos rumo à nossa essência, ai está nosso maior bem estar emocional: a alegria de ser quem se é.

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