Após anos de escuta em consultório, torna-se interessante observar como algumas queixas são recorrentes e uma delas é sobre a dificuldade em receber acolhimento por parte de quem escolhemos para dividir nossas dores.
Quando estamos passando por alguma dificuldade, geralmente escolhemos alguém com quem compartilhar, e essa pessoa, sem saber o que dizer, acaba falando frases como: “vai passar”, “vai dar tudo certo”, “o tempo cura tudo” ou “entrega na mão de Deus”.
Mesmo que, de alguma forma, tenham uma boa intenção, não passam de falas inócuas que não atenuam a dor. Na verdade, quase nada atenuará, mas menos ainda frases clichês. Muitos alegam que falam isso por não saber o que dizer, outros só repetem sem pensar no efeito inútil e outros não querem se envolver com o problema do outro. Seja qual for o motivo, ouvir com atenção, sem criticar, e se colocar à disposição para ajudar é muito mais relevante que frases de efeito que só fazem efeito ao contrário.
Outra situação comum e igualmente incômoda é que a pessoa escolhida como confidente passa a se “preocupar” com a outra (ora de verdade, ora por educação) e começa a fazer um “acompanhamento” dos fatos. Esse comportamento pode até ser uma demonstração de interesse genuíno, mas não deixa de ser uma amolação para quem está sofrendo com o problema, pois o mesmo tem que dar satisfação de algo que, na verdade, está longe de se resolver. Sabemos que um problema não some da noite para o dia, sobretudo questões emocionais que são de soluções lentas e doloridas. Ficar perguntando como a pessoa está geralmente mais incomoda que ajuda.
Mas isso tem um motivo: aprendemos na nossa criação e com as regras sociais que devemos demonstrar atenção, ou seja, precisamos mais “parecer” do que realmente estar interessados no contexto do outro, e assim seguimos cada vez mais com relações rasas e laços frágeis.
Não pretendo dizer com isso que precisamos estar a serviço do outro, até mesmo porque a pessoa que vive desabafando e só fala de si própria, além de egoísta é vitimista, trata os demais como obrigados a resolverem seus problemas, estes sofrem a síndrome do protagonista.
E, por fim, outra questão importante para reflexão é sobre a nossa pretensão de querer evoluir o outro. Com muito empenho e dificuldade conseguimos evoluir a nós mesmos, mas jamais as outras pessoas. Mas na prática o que ocorre são pessoas gastando energia para mudar quem não deseja mudança, ficando frustrado e redobrando a ajuda - um buraco sem fundo.
Precisamos ter em mente que o princípio da ajuda é o pedido e, mesmo assim, é preciso analisar se esse pedido é genuíno ou da boca para fora. Quem de fato precisa de ajuda pouco pede e muito faz. Nos convém ficarmos atentos e ter a sabedoria para entender que em determinadas situações a melhor forma de ajudar é parando de ajudar.