Outro dia alguém me perguntou por que uma pessoa se torna amargurada.
Alguns podem ser os caminhos para chegar até a amargura, mas penso existir um forte com o ressentimento. Quanto mais mágoa, mais probabilidade de se tornar amargurado. É como se esse sentimento, uma vez despejado no outro, tivesse um viés de vingança dos dissabores recebidos durante a vida.
Quem armazena rancor sai pelo mundo intoxicado; além de fazer mal para si, despeja no mundo seu lixo emocional. Para isso, devemos dedicar tempo para investigar nossas emoções e, para não virarmos uma metralhadora cheia de mágoas, precisamos aprender a limpar nossos corações.
Nessa vertente temos o perdão, um sentimento difícil de trabalhar, pois fica a impressão de que perdoar significa liberar o outro do erro cometido e não perdoar significa puni-lo. Mesmo porque quem sofreu a injustiça sofre um impacto muito maior do que quem cometeu: “quem bate esquece, quem apanha, não”. Um pedido de desculpas, muitas vezes da boca para fora, ou em tom de ironia, não é suficiente para estimular o perdão. Ao contrário, só faz aumentar a mágoa.
É comum pessoas com dificuldade de perdoar serem mal vistas ou chamadas de “frias” por parte de quem deseja o perdão. Mas isso é um equívoco. A incapacidade de perdoar aprisiona, mas não torna ninguém ruim, afinal, se há alguém ferido é porque existe um agressor. E este, sim, foi o causador do dano. Muitas pessoas confundem e pensam que perdoar significa passar uma borracha no ocorrido e continuar como se nada tivesse acontecido. Perdoar nem sempre é sinônimo de retomada e também não requer uma verbalização. Você pode perdoar em silêncio e fazê-lo até para aqueles que não pediram, isso porque perdoar não é esquecer e sim conseguir transformar aquilo que nos magoou numa memória “fria”, desprovida de sentimentos.
Guardar rancor é um caminho não só para amargura, como também para a agressividade. Pessoas ressentidas são por vezes irritadiças, impacientes e explosivas, guardam tantos dejetos emocionais que por pouca coisa vomitam agressividade. Não há como não constatar que andam contaminados por dentro.
É bom ressaltar que uma coisa que dificulta muito a leveza emocional é a vaidade. Isso porque quanto maior o ego, maior a ofensa. Se sentir ofendido revela uma fragilidade onde a vaidade não aceita determinado tipo de tratamento.
Aos que desejam ter uma vida mais leve, portanto uma melhor saúde física e mental, se faz necessário se livrar dos ressentimentos tão negativos quanto as mágoas. Um bom começo pode ser evitar a ruminação mental com a mesma força com que os pensamentos se impõem.
Outra atitude benéfica é diminuir a vaidade tentando não se sentir tão ofendido em com a postura do outro. Ao contrário, devemos nos compadecer frente à limitação alheia através do exercício da compaixão e consciência.
Tal qual nosso corpo físico, nosso psiquismo não é diferente: quanto mais exercício, mais treinados e mais fortes ficamos. Deixar de ser ressentido para não ser amargurado é um trabalho que depende exclusivamente de nós e, portanto, está ao alcance de todos.