Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Saúde mental em tempo de caos

SIMONE DEMOLINARI
almanaque@hojeemdia.com.br
Publicado em 30/03/2023 às 06:00.

É a escola do filho, as contas para pagar, o fornecedor que não entrega o trabalho no prazo combinado, o transito caótico e, com todas essas pressões, temos que manter a serenidade para viver bem em sociedade. 

Na metade desse caminho, muitos têm a sensação de que irão enlouquecer e acabam dando vazão à sua agitação comendo mais do que deveriam, bebendo, gastando e tomando calmantes. Mas isso costuma não ser eficiente e ainda assim, se estressam, brigam e perdem a paciência com facilidade. Poucos são os que conseguem ter como válvula de escape alguma atividade rotineira autoconstrutiva que traga um alivio para ansiedade. 

Viver como uma bomba relógio prestes a explodir, além de muito prejudicial para quem sente, é insustentável para quem convive. Tem alguma coisa mais prejudicial para as relações do que alguém estressado, agitado, que reclama da vida e vive tenso? Ninguém quer conviver com pessoas assim, ao mesmo tempo que quem se sente dessa maneira está sempre escolhendo alguém para ser o “saco de pancada”. Não há relação que seja de qualidade nessa instabilidade emocional. 

Precisamos cuidar, e muito bem, da nossa saude mental, afinal de contas, o que sentimos é que determina nossa felicidade. 

Considero o pensamento de preocupação como um dos maiores vilões da nossa saúde mental. Se pré-ocupar com algo, em uma analise lógica, não faz o menor sentido. A questão está na sensação de que pensar de maneira recorrente no problema ajuda a resolvê-lo, uma ideia equivocada de tentar controlar os acontecimentos. Além de nada adiantar ainda piora o estado emocional de uma pessoa. 

Mas se sabemos que a preocupação não tem serventia alguma por que ainda insistimos em senti-la? Algumas são as razões e talvez a principal delas é o pensamento viciado. Aprendemos, em algum momento da nossa vida, sobretudo com nossos pais, a nos preocuparmos com questões sobre as quais não temos controle e assim repetimos o modelo que tanto reprimimos neles. Além da repetição desse padrão costumamos nada fazer para mudarmos nossos pensamentos a não ser querer que ele saia milagrosamente da nossa mente. Coisa que dificilmente irá acontecer. 

É preciso buscar novas formas de pensar frente a velhos problemas. E mudar esse pensamento é como mudar de casa, de bairro, de cidade, é preciso coragem para enfrentar a insegurança que deriva do novo e do desconhecido acreditando racionalmente que o resultado dessa mudança virá para melhor. 

Quando se consegue mudar o pensamento, tudo melhora. Pessoas nervosas têm uma forma de pensar diferente daqueles que são “cuca fresca”, ou seja despreocupados. Estes são muitas vezes xingados pelos estressados de irresponsáveis, mas, será que estão tão errados assim? 

Escolher uma forma mais leve de levar a vida nada tem a ver com irresponsabilidade, ao contrário, é um grande sinal de maturidade. Afinal, não podemos esperar que o mundo externo se tranquilize para reaver nossa saude mental, precisamos dela saudável justamente para enfrentar o caos. 

A psicanalista escreve neste espaço às quintas-feiras

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