Várias são as situações em que por fragilidade, medo ou desejo que as coisas se resolvam por si só, deixamos para depois algo que suplica pela resolução urgente.
Não assumir as rédeas da situação significa deixar o desfecho à própria sorte e a consequência disso pode ser muito danosa. Abaixo, o relato de Antônio.
"Ao longo da minha vida observei minha dificuldade em resolver as coisas e as consequências que obtive em função disso. Consigo te narrar três momentos muito marcantes: o primeiro foi em um emprego onde tudo era desfavorável a mim. Além de não gostar do ambiente, ainda tinha que lidar com coisas desleais. Sabia que tinha que sair de lá tanto para meu crescimento quanto para minha saúde mental, mas, por algum motivo mais forte que eu, fui ficando.
Ia para o trabalho triste, sem energia, e lá eu era uma mescla de apático, desinteressado e baixo rendimento. Conclusão: fui friamente demitido. Eu também demitiria um funcionário como eu, mas eu não precisava ter deixado chegar nesse ponto. Já havia percebido como eu estava infeliz, deveria ter resolvido isso antes, mas como não o fiz, a situação se resolveu da pior maneira possível.
Saí totalmente por baixo, deixando uma má impressão e falta de profissionalismo e também porque parece que quando a gente é demitido nasce uma falsa ideia de que a gente gostava daquele lugar. Fiquei vários dias com a sensação de que eu não queria sair, sendo que eu queria. Me senti muito mal por isso, mas não foi o suficiente para eu aprender.
O segundo momento foi na minha vida afetiva. Comecei a namorar muito cedo, o namoro nunca foi lá grandes coisas, mas como não havia motivos para terminar, foi ficando, e para encurtar a história quando eu dei por mim já tinham se passado 8 anos de namoro. Não era ruim, mas eu nunca me via casado com ela, aliás, evitava fala sobre esse tipo de assunto.
Com o tempo e com muita terapia, tive coragem de assumir a mentira que eu mesmo contava para mim e dei a mão à palmatória de que eu nunca gostei dela e que não viveria uma vida inteira com uma pessoa que eu não amava (apesar de eu não ter nenhuma queixa específica dela, a não ser o fato de eu não gostar o suficiente como mulher).
Ao concluir isso, o problema passou a estar nas minhas mãos para ser resolvido. Confesso que a dificuldade era tão grande de magoá-la e também decepcionar a família dela que eu empurrava o término o máximo que eu podia. Tudo era motivo para adiar uma conversa definitiva, mas ficava “terminando" com ela na minha cabeça o dia inteiro. Era uma tortura mental.
Até que um belo dia conheci uma pessoa no curso de inglês e foi amor à primeira vista. Ao invés de eu terminar meu namoro, eu iniciei ali um caso extraconjugal de uma paixão ardente. De uma forma antagônica, meu namoro original até melhorou. Passei então a ter duas vidas, uma pública e outra clandestina. Minha vida se resumia nisso, não tinha tempo para mais nada, o trabalho, minha família, tudo se tornou secundário.
O tempo foi passando e quando dei por mim se passou um ano e eu espremido entre o sentimento de culpa, medo de ser descoberto, elaborando discursos mentais para me defender de um possível flagrante e me sentindo num beco sem saída. Eu me sentia muito dividido entre: a segurança de namoro de anos X um novo relacionamento que não sabia onde poderia me levar e que já apresentava problemas devido à falta de transparência da minha parte.
Até que aconteceu o pior: fui descoberto, e da pior forma possível. Fui flagrado e desmoralizado para toda a família dela. Tentei reatar meu namoro por meses, na ilusão de que era ela que eu amava, e com isso perdi a outra que eu amava até mais. Para falar a verdade, eu já nem sabia mais o que era amor.
Lembrei da minha demissão. A lição que ficou é: ou você resolve seus problemas tomando decisões ou a vida resolve para você de um jeito bem pior”.
A história de Antônio se assemelha, em alguma proporção, com muitos de nós. E por que agimos assim?
Alguns podem ser os motivos: fraqueza emocional; vaidade em não querer magoar ninguém para ficar bem com todo mundo, irresponsabilidade afetiva consigo e com os outros envolvidos; deixar a situação vir à tona para que o outro resolva por mim.
Em todas as situações, o individuo é refém da própria fragilidade.