Alguns sentimentos estão a serviço de nada a não ser provocar nossa neurose e assim desestabilizar nossa saúde mental. Nos convém refletir com mais profundidade sobre cada um deles, no intuito de tentar evitá-los:
Sentimento de culpa é uma autopunição imposta por nós com dois objetivos: nos castigarmos e garantirmos, para nós mesmos, que não somos uma pessoa má.
Um sentimento corrosivo e recorrente se instala na mente de quem se sente culpado e “vozes” ruminam em looping: “nossa, por que eu fiz isso?”, “Ai, que arrependimento de ter dito aquilo”; “se eu tivesse feito algo, teria evitado aquela situação”, “ minha família precisando de dinheiro e eu aqui gastando tanto”, “eu aqui me divertindo e deixando meu filho em casa”.
Esses e outros pensamentos de igual teor castigam a vida da pessoa. Se sentir culpado só é devido se de fato prejudicamos alguém, e quando isso ocorre temos sempre a opção de nos desculparmos e tentarmos junto ao prejudicado reparar o dano. Tudo que não estiver abarcado nesse conceito não passa de neuroses que criamos para nos martirizar. Precisamos nos livrar o mais rápido possível da culpa introjetada equivocada.
A indignação ocorre quando nos sentimos indignados por algo que ocorreu contra nossa vontade. Geralmente, ou engolimos aquilo a seco e transformamos a revolta numa ruminação mental interminável ou partimos para uma atitude agressiva de discutir ou mesmo brigar. Isso não quer dizer que temos que não nos importar para situações indignas ou de injustiça que podem nos gerar grande dissabor.
O ponto em questão é a energia gasta com o sentimento corrosivo que é o da indignação. Podemos e devemos lutar pelos nossos diretos, mas, quanto mais centrados e serenos estivermos, mais próximos de tomarmos atitudes corretas. A isso chamamos inteligência emocional.
A raiva é um sentimento que está atrelado à indignação, mas também pode existir sozinho e com maior frequência. A raiva pode ser um bom termômetro para medir a nossa imaturidade emocional: quanto mais sentimos, menos maduros somos. Isso se deve ao seu teor acusativo: tem sempre um vilão para descarregarmos a culpa. Nos vitimizamos, não nos responsabilizamos e ficamos com raiva de quem nos lesou. Sentir raiva é um dreno de energia psíquica.
A raiva proporciona fadiga, quem a vivencia diariamente sempre se sente um cansaço crônico perante a vida. Uma frase dita por Freud é: um sinal de maturidade é quando conseguimos trocar a raiva por tristeza.
Preocupação é a ocupação mental com hipóteses negativas; e qual a vantagem disso a não ser produzir medo e insegurança? Exemplo: Caso 1: a filha adolescente sai para uma festa e a mãe não dorme enquanto ela não chega. Mesmo que o retorno da menina seja no meio da madrugada, a mãe segue insone preocupada ligando ou contendo a vontade de ligar cogitando hipnoses trágicas. O sossego só chega junto com a filha. Caso 2: a filha adolescente sai para uma festa e a mãe dorme no horário de costume e talvez acorde só com o barulho da chegada da filha. O mais comum é a identificação com o caso 1.
Interessante observar que qualquer ocorrência com a filha no local da festa não é alterada se a mãe estiver acordada ou dormindo. Há uma falsa ideia de que a preocupação é sinônimo de responsabilidade. Isso não é verdade! Ao contrário, a preocupação leva um peso extra para o alvo, no caso a filha, que se sente desconfortável por estar proporcionando tal sentimento a quem tanto ama - nasce aí um sentimento de culpa e uma dívida. A ocupação é nobre, a preocupação é inútil. Não passa de um pensamento autodestrutivo.