No artigo da semana passada, falei sobre imaturidade emocional e recebi o seguinte e-mail de um leitor:
“Lendo seu artigo pensei no meu marido. Convivo com ele há cinco anos e quando acontece algo que o desagrada, por menor que seja a questão, ele fica dias sem falar comigo. Um exemplo: comprei uns limões e ele achou que eu não escolhi bem a fruta. Foi o suficiente para ele emburrar. Como eu não fiquei implorando para ele desemburrar, ele emburrou mais ainda e foram 22 dias sem falar comigo. Numa outra ocasião, era fim de semana e eu quis ficar um pouco mais na cama. Quando percebi, ele já estava emburrado, pois eu não havia levantado junto com ele. Foram mais uns três dias sem falar comigo. O interessante é que eu nunca sei o motivo de ele se fechar. Tenho que ficar tentando adivinhar e ficar perguntando para ele o que eu fiz de errado. Isso é exaustivo e muito angustiante. Minha pergunta é: o que faz uma pessoa emburrar, ficar em absoluto silêncio e não olhar mais na sua cara por motivo fútil?"
Algumas pessoas, as mais imaturas, não toleram frustração. Dependendo do nível da imaturidade, nem um limão diferente do desejável é perdoável. Esse comportamento, onde um emburra e o outro fica numa condição de submissão é parecido com o da criança, que pega birra para fazer com que os pais cedam às suas vontades.
O adulto que traz consigo esse traço infantilizado, ao invés de dialogar e verbalizar sua insatisfação, a manifesta através de “birras”. Alem de imaturidade é uma forma de manipulação e poder.
Na psicologia o nome disso é agressão passivo-agressiva, uma forma de expressar raiva de maneira silenciosa. Pode ocorrer em qualquer situação, basta que uma pessoa faça algo que desagrada a outra. Esta, ao invés de falar de forma transparente, opta por esconder sua raiva num comportamento “fechado” de silêncio, mau humor, sacarmos, ironias e indiretas.
Este é um comportamento arrogante típico de quem sente que não pode ser contrariado e, caso seja, ao invés de resolver, decide punir o outro com seu embotamento. A partir daí, um lado fica tentando desfazer o clima ruim, e o outro, decidindo se quer ou não.
Isso acontece porque a agressão-passiva é motivada pela crença de que um precisa sofrer para que o outro se sinta ressarcido.
Isso faz mal tanto para quem sofre o silêncio, mas, principalmente para quem pratica - mesmo que este se sinta imediatamente bem fazendo isso. Quem está de fato bem não armazena conteúdo interno de raiva e muito menos deseja punição.
É possível que o comportamento passivo-agressivo surja na infância como um mecanismo de defesa em ambientes familiares nos quais não era permitido expressar as emoções. Quando há proibição da expressão honesta dos sentimentos, a criança reprime o que sente e canaliza a agressão de outras formas. Sendo castrada de expressar sua dor, acaba por se tornar um adulto como uma montanha-russa de emoção: debaixo de um verniz de doçura, rumina pensamentos de ódio.
Mas uma ocorrência infeliz na infância pode e deve ser trabalhada na vida adulta. Algumas sugestões para quem se vê nessa condição é falar de forma serena o que está sentindo; abandonar qualquer tom de sarcasmo e ironias; adquirir uma forma transparente de se comunicar, deixando claro o que quer; evitar se ofender com pequenos problemas e se ainda assim acontecer, verbalizar.
Amadurecer a forma de se relacionar é importante para não correr o risco de passar a vida inteira de forma infantilizada.