“Simone, perdi minha filha quando ela tinha três anos de idade. Havia acabado de me separar do meu ex marido e estava morando sozinha. Na época, minha filha mais velha estava com cinco anos de idade. Tenho três irmãos, dois casados e um solteiro que mora com meu pai e minha mãe.
Após o falecimento da minha filha, mesmo com muita dor, segui com minha rotina de trabalho, mas sem forças para fazer quase nada em casa. Me lembro que muitos amigos ligavam para tentavam me consolar, mas nada adiantava muito. Minha mãe sempre me ligava chorando e eu acabava tendo que consolar ela. Meus irmãos iam aos finais de semana me ver, mas parecia que era por obrigação porque ficavam meia hora e iam embora. Eu sabia que eles estavam sofrendo, mas Simone, eu não me senti amparada por eles.
Me lembro, que uma vizinha, mesmo recém-operada, ia na minha casa quando eu saía para trabalhar e arrumava minha cama, colocava flores na jarra, abria a cortina, guardava meus sapatos e minhas roupas que viviam espalhadas no chão e lavava as louças que estavam na cozinha. Eu me sentia mais amada por ela do que pela minha família. Esse ocorrido já faz dez anos, nunca me esqueci do que ela fez por mim. Esperava ter recebido mais da minha família”.
Esta é uma parte de um e-mail enviado por uma leitora, que num momento de dor, se sentiu mais acolhida por uma estranha que pelos seus familiares.
Falar que ama, mandar mensagem, presentear, dar conselhos está ao alcance de muitos, mas ter atitude de fato, é para poucos. Talvez o gesto da vizinha, apesar de simples, foi tão significativo por ter sido percebido na prática. Atitudes pró ativa em relação a quem está sofrendo é a forma mais valiosa de demonstrar amor.
O fato é que morar numa casa cheia de gente, ter família grande e dormir acompanhado não garante laços de qualidade e a prova disso é o número de pessoas que se sentem sozinhas junto aos seus próximos.
A solidão em família é um sentimento percebido através de algumas queixas:
— Pais excessivamente críticos que não reconhecem o esforço do filho e sempre o compara a outros, rebaixando-o. Pais que sempre fazem discursos moralistas que muitas vezes nem praticam. Ausência de carinhos físicos, beijos e abraços.
— Irmãos competitivos, maliciosos, que usam de informações privilegiadas para colocar o outro numa condição desfavorável e levar vantagem.
— Pais que não conseguem administrar suas angústias e acabam as transferindo para os filhos fazendo com que eles se sintam responsáveis por carregar um fardo que não é deles. Os filhos sentem-se desamparados com a estranha sensação de serem pais dos seus pais.
A forma com que os pais conduzem a dinâmica familiar irá refletir diretamente na vida adulta do filho, desde suas escolhas sentimentais, autoestima, até a forma com que ele se relaciona com o mundo.
Assim como uma família unida pode ser a base de tudo, o contrário também pode ser desastroso. Vale lembrar, que é das família desagregadoras que vem os maiores atritos, dores e traumas.