Muitas pessoas se deparam com o seguinte impasse: devo falar o que penso ou devo calar para evitar o conflito?
Nessa hora, muitas questões são levadas em consideração. Uma delas é o número de vezes que já se discutiu sobre o mesmo tema.
Há situações onde já se falou tanto sobre o assunto que a opção de se calar vem mais por desânimo do que para evitar o conflito. O indivíduo sabe que tudo que for dito não surtirá efeito, serão palavras em vão.
Esta é uma situação muito comum nas relações conjugais. É curioso perceber que o parceiro afetivo, mesmo sabendo onde dói o calo do outro, não se preocupa em poupá-lo. Ao contrário, alguns são taxativos em afirmar que não irão mudar. E não me refiro a questões complexas que necessitam de grandes concessões. Geralmente são situações simples, como por exemplo esquecimento de datas. Um, sabendo que o outro faz questão que uma determinada data seja lembrada, não se preocupa em anotar para atender o pleito do(a) parceiro(a). Situações simples que poderiam ser evitadas com um pouco de boa vontade.
Ninguém tem o direito de exigir nada de ninguém. Muito menos de quem ama. Porém temos a responsabilidade de expor, com clareza, aquilo que nos incomoda. Se o outro quiser nos agradar, de certo evitará tais comportamentos que nos entristece. Numa relação saudável há um acordo tácito, onde um, sem perder sua essência, se esforça ao máximo para zelar pela integridade emocional do outro. Se isso não ocorre, fica claro o descaso com o bem estar do par amoroso.
Outro motivo pelo qual as pessoas evitam falar o que estão sentindo deriva do medo. Temem se posicionar e perder a relação. Alguns percebem nitidamente essa dificuldade, já outros acabam por mentirem para si. Usam como justificativa o fato de não querer magoar o outro ou se dizem “sem graça” para tocar no assunto. O que não é verdade. Se calam por temerem as consequências de uma conversa franca. Preferem engolir a seco o que lhes incomodam a correr o risco de não ser mais desejado. Dessa forma acabam se tornando permissivos demais, passam por cima de valores primários, convivem com situações aviltantes, prisioneiros do próprio medo. Eurípides, um poeta grego, tem uma frase clássica que ilustra bem isso: “Não dizer o que pensa. Essa é a condição de um escravo”.
Muitas vezes nos calamos frente ao problema e fazemos muitas concessões para não ter que arcar com a consequência do enfrentamento. Tememos o abandono. Preferimos abrir mão daquilo que consideramos menor, em prol de algo maior. Entretanto, após um período, a soma dessas concessões forma um conjunto de revolta e mágoa que torna insustentável a relação.
Mais cedo ou mais tarde a fatura chega. Nossa natureza fala mais alto e a voz do inconsciente não silencia até ser ouvida.
É preciso refletir com muita responsabilidade se vale a pena afastarmos de nós mesmos para nos aproximarmos do outro.