Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Vale a pena fingir orgasmo?

Publicado em 14/09/2016 às 18:47.Atualizado em 15/11/2021 às 20:50.

Ao contrário dos que muitos pensam, a velha história de fingir orgasmo não é um comportamento só das mulheres. Homens também fingem tê-lo. Certamente numa proporção menor ou com menos teatralidade. Contudo, quando se encontram diante da impossibilidade de atingir o clímax, muitos optam por dissimulá-lo.

Numa breve pesquisa para escrever este artigo, perguntei para homens e mulheres se alguma vez eles já fingiram orgasmo. Se sim, por quê? Dos entrevistados homens, 61% disseram que sim. E os motivos foram: para não serem questionados quanto a virilidade e por vergonha. Entre as mulheres o resultado foi mais alto, 89% delas já fingiram; contudo, a motivação foi diferente: para que o parceiro seja o protagonista da relação, para não ser percebida como “ruim de cama” ou para terminar mais rápido. 

O curioso é que, para essas mesmas pessoas, o problema desaparece quando se pratica a masturbação. O que deixa claro que o problema surge na presença do outro. 
Tanto para homens quanto para mulheres, fica claro uma forte preocupação com a imagem. Querer ser “bom de cama” acaba fazendo com que muitos levem à risca o ditado “entre quatro paredes vale tudo” – inclusive a farsa.

Sandro, um rapaz de 30 anos, terminou seu relacionamento de 3 anos quando ouviu, por acaso, a namorada contar para amiga como fazia para enganá-lo na cama. Segundo ele, a decepção foi grande sobretudo pela falta de confiança. O fato dela preferir fingir à compartilhar a situação com ele, o desapontou. 

A questão é que, muitas vezes, a omissão deriva da insegurança de como o parceiro ou a parceira irá receber a informação. Nem sempre existe um acolhimento, uma compreensão. O que muitas vezes ocorre é uma crítica ou uma cobrança. Isso certamente inibe o outro de se expôr, uma vez que ele já está se sentindo em desvantagem. 

Há uma convenção social, herdada da indústria da pornografia, que avalia a competência sexual de uma pessoa de acordo com a sua performance. Classificam como “bom” quem faz uma verdadeira ginástica na cama e “ruim” quem é menos performático. Isso faz com que muitos finjam sentir prazer, até quando sentem dor. 

Mesmo nos dias atuais, com tantas conquistas no campo da liberdade sexual, não é difícil de se saber de pessoas que nunca tiveram orgasmos e não se importam com isso. Passam a vida inteira fingindo desfrutar de uma sensação que não sentem. 

Muitos justificam que fingir é a solução para manter a harmonia da relação. Outros afirmam que preferem a farsa a ter que solucionar o problema ou mostrar essa fragilidade para o outro. 

Independentemente da motivação ou escolha pessoal de cada um, vale a pena a reflexão sobre o assunto. Afinal de contas, não deixa de ser triste constatar que até mesmo no campo sexual, muitos se preocupam mais com a aparência do que com o prazer.

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