Quando pensamos em vício, associamos logo a drogas ilícitas ou até lícitas, como álcool, remédios, açúcar, compras, estendendo para celular, rede social, etc. Relacionamos essas dependências a algo tangível e excluímos a existência de vícios invisíveis. Mas eles existem e são igualmente nocivos para nossa vida. Alguns exemplos:
Preguiça
O desânimo e a preguiça são condutas autodestrutivas que, ao longo do tempo, viram um hábito que se transforma em vício de comportamento. Além de atrasar o desenvolvimento dos planos de vida, ainda deixa o indivíduo com baixa autoestima, com um péssimo juízo de valor sobre si mesmo. O sujeito preguiçoso não tem admiração pelo seu jeito de ser; ao contrário, se envergonha dele. Não existe preguiçoso que sinta orgulho da própria conduta.
Conflito
Algumas pessoas, embora verbalizem que querem viver na paz, estão sempre envolvidas em algum tipo de confusão, seja discutindo ou problematizando questões que na prática seriam mais simples de resolver. Conflitar é altamente viciante, pois libera adrenalina além da obtenção de ganhos secundários, como, por exemplo, ter seus desejos atendidos. Somado a isso, quem tem por hábito resolver as questões por meio de conflitos está sempre como protagonista da situação – e isso, para muitos, atenua a carência, pois é uma forma de receber atenção e se sentir considerado.
Dependência Emocional
Saber que a relação faz mal mas não conseguir se desvincular dela configura dependência. Um indivíduo submetido a maus- tratos emocionais por muitos anos perde a autonomia sobre a própria vida e entra num paradoxo perturbador de desejo e repulsa: racionalmente repudia a situação, mas emocionalmente não consegue se desvencilhar dela. É como um usuário de droga que sabe que sua vida está ladeira abaixo, mas não consegue abandonar o vício.
Sofrimento
Pode parecer estranho, mas sofrer vicia. É difícil de aceitar que alguém possa gostar de sofrer, mas a questão não é simples. Aliás, a trama mental é muito mais sofisticada do que pensamos. Fato é que se o nosso comportamento persiste ou reincide em condutas autodestrutivas, isso pode revelar um prazer oculto na dor, ou seja, masoquismo. Quem não gosta de sofrer se livra do problema; quem é viciado, convive com ele.
Procrastinação
Deixar as coisas para a última hora e depois resolvê-las em tempo recorde e sob a pressão do estresse é altamente viciante. Um efeito químico semelhante às substâncias produzidas quando se pratica esportes radicais. Além disso, há um fator psicológico que ocorre a cada vez que o indivíduo, mesmo empurrando as obrigações, consegue resolvê-las aos “45 minutos”.
Nessa hora, há um reforço positivo com a mensagem: “eu consigo”, que é enviada para o cérebro, fazendo com que o indivíduo viva nessa vício de dar conta somente através da pressão. A procrastinação é também uma grande fonte de ansiedade.
Vitimismo
Estagnar na condição de vítima se torna um vício comportamental, que se manifesta por meio de queixa e reclamação. O vitimista está o tempo todo verbalizando o próprio descontentamento. Alguns ainda dizem: “não estou reclamando não, só estou contando”.
Vício da perfeição
Disfarçado de virtude, pessoas que exigem de si resultados perfeitos acabam ficando paralisadas. Travam e adiam ao máximo o que precisam fazer e quando fazem nunca se sentem satisfeitas com o resultado, passam dias se autopunindo, acreditando que poderiam ter feito melhor. Isso, além de gastar o dobro do tempo, ainda traz um desgaste mental, ruminando o que passou. Um buraco sem fundo viciante e autodestrutivo.
Não basta ter consciência dos próprios vícios, é preciso trabalhar arduamente no sentido contrário para se livrar deles. Coisa a que nem todos estão dispostos.