Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Você tem domínio sobre si mesmo?

Publicado em 02/11/2023 às 06:00.

Observo, nos meus anos de clínica, que as queixas da maioria das pessoas têm a ver com a ausência de domínio sobre si mesmas, como se o desejo andasse na contramão do comportamento, quase como se o corpo não pertencesse ao próprio dono. 

Quando ouço alguém narrando algo parecido, às vezes pergunto: e quem manda em você? A resposta imediata é: eu. Seguida de uma pausa, uma reflexão, e então uma conclusão desanimada: não sei quem manda em mim, acho que não sou eu.

Fica uma pergunta: quem dá o comando na sua vida, você ou suas emoções?

Muitos poderão dizer que suas emoções têm vontade própria e por isso fracassam na busca de seus objetivos. Mas será que isso é verdade ou não passa de uma justificativa para não se responsabilizar pelo insucesso?

Aí vem a briga razão x emoção. Muitos carregam um conceito de que “agir com emoção” tem a ver com coisas boas, enquanto “agir com a razão” está ligado a ser frio e calculista. Mas isso é um equívoco!

Quem age com emoção perde o comando sobre si e não consegue impor suas vontades; além disso, nem sempre as emoções são positivas, e com isso são também comandados pela raiva, orgulho e vaidade, ficando vulnerável àquilo que sentem. Com isso, deixam-se vencer pela preguiça, impulsividade, consumismo, muitas vezes em detrimento daquilo que realmente é importante.

Viver à mercê da emoção não é um bom negócio, tanto pela ausência de autonomia, quanto pela instabilidade que se instala em sua vida.

A busca então passa a ser: como colocar a razão para comandar as emoções?

Apesar de o caminho ser difícil, ele é possível e está ao alcance de todos, salvo em alguns casos de patologia incapacitante, o que não é o caso de muitas pessoas. Portanto, mudar essa dinâmica está em nossas mão, mas, requer uma jornada permeada de esforço, sacrifícios e privações que nem todos estão dispostos a trilhar.

Se imaginarmos duas linhas na horizontal, sendo uma a “linha da emoção” e a outra da “razão”, podemos entender que quanto mais próximas elas estiverem, mais seremos pessoas capazes de tomar decisões equilibradas. Ao contrário disso, quanto mais distantes elas estiverem, mais extremistas e menos equilibrados seremos. O desafio consiste em tentar unir essas duas linhas. A união definirá o nível da nossa Inteligência Intrapessoal.

Na teoria das inteligências, a Intrapessoal é considerada a mais rara delas. Expressa a capacidade de se conhecer, ter domínio das emoções, autocontrole, ponderações e capacidade de tornar as ações conscientes. Pessoas com essa inteligência desenvolvida são mais estáveis emocionalmente e têm maior comando da própria vida.

Para fortalecer essa inteligência é preciso estabelecer micro metas e cumpri-las de forma inegociável, com empenho constante para vencer a luta entre duas forças poderosas: a razão, que sabe que o trabalho é duro, e a emoção, que reage contra a decisão como um impulso involuntário. Muitos querem, nem todos executam.

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