Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

A importância do Sesc na vida das pessoas 60+

Publicado em 15/12/2023 às 06:00.

“Eu não tinha conseguido ninguém para me trazer aqui. Aí meu filho passou lá em casa e me trouxe. Imagina se eu perdesse”, falava, com um leve choro, aquela senhora que participava daquele encontro tão especial, que encerrava as atividades do ano de 2023 do projeto +60, uma iniciativa do Sesc MG que completa 60 anos de existência. Antes da proliferação de profissionais falando da importância do envelhecimento saudável, o Sesc MG já fazia isso.

Durante o mês de dezembro eu fui convidado a visitar todas as unidades mineiras do Sesc que desenvolvem o projeto voltado ao público 60+, para fazer uma palestra com o grupo de idosos que frequenta as aulas e atividades ofertadas em cada uma delas, de acordo com a região e com o perfil do público.

Assim, há unidades em que acontecem as aulas de artesanato, yoga, pilates, dança, coral, ginástica, oficina de memória e por aí vai. Os participantes também são convidados a frequentarem bailes, que acontecem todos os meses e que são muito procurados, sendo as vagas bem concorridas.

Há as viagens para diversas cidades que possuem o Sesc, sendo a visita ao município de Caldas Novas, em Goiás, a mais querida por todos. São realizados grandes encontros, como o que aconteceu recentemente em Belo Horizonte, numa mobilização que envolveu cerca de 1000 “alunos” com idade superior a 60 anos.

Eu não tinha noção da dimensão deste trabalho realizado pelo Sesc-MG, e muito menos do impacto que ele causa na vida daquelas pessoas. Os depoimentos nos emocionam, pois quando as férias chegam, o lamento é geral, daqueles que ficam ansiosos para que o outro ano chegue logo e, assim, retomem as atividades, reencontrem os amigos. Vou ousar dizer que o Sesc +60 dá sentido à vida de muita gente, sendo a companhia que salva da solidão, o amigo que cuida da saúde física, sem descuidar da mental, emocional e social, tão importante para um envelhecimento ativo.

“Eu participo de todas as atividades que têm aqui. Meus filhos cresceram, meus netos cresceram, foram trabalhar em outras cidades e eu não quis sair da minha casa, porque estou muito acostumada. O Sesc é a minha companhia”, falou uma das idosas.

Quando eu perguntei por que há tão poucos homens nos grupos, uma delas me disse que eles são preguiçosos e não sabem o que estão perdendo, pois “este projeto é vida”, na fala alardeada por aquela senhora de 78 anos. E ela ainda arrematou: “Aqui a gente tem participante de 90 anos, que não deixa de fazer as atividades físicas e nem de participar do baile”.

Em cada uma das treze unidades visitadas eu sentia que aquela atividade para a qual fui chamado a fazer, cansativa pelo excesso de viagens, pelo calor e distância da capital, em alguns casos, acabou sendo para mim um grande presente. Descobri uma força daquelas mulheres e homens, um carinho e uma receptividade sem igual.

Teve unidade em que eu cheguei debaixo de calorosas palmas, saudando-me por ser um visitante. E saí do auditório recebendo o abraço afetuoso e apertado daquele grupo. Em outras, as pessoas um pouco desconfiadas, tentando entender o tema da palestra, chegavam na sala e se sentavam tímidas, mas iam se soltando, revelando-se durante a minha fala. Ganhei música cantada e poesia declamada. A sensação que tive é que já fazia parte dos grupos.

O Sesc deve saber o quão lindo e importante é este trabalho, mas eu precisava dizer isso aqui, para reforçar que aquela legião de pessoas está muito feliz no espaço que a instituição dedica a elas. Elogiam os professores, promovem cafés colaborativos, estimulam os colegas a não faltarem, se dedicam e se encontram.

Eu entendi o grande ganho desse projeto, que veio simbolicamente na forma de música de uma das participantes em uma das unidades: “eu amei você”, declamou em nome dos demais. E é assim que eu sempre encerro a minha palestra, convidando as pessoas para amarem (a si e aos outros). Como diz a nossa querida Cora Coralina: “Se a gente cresce com os golpes duros da vida, também podemos crescer com os toques suaves da alma”.

Sabemos que muitas pessoas negam a idade, numa tentativa de reverter o que o tempo faz com a gente. Mas, o que o danado do tempo faz? Como disse a escritora Marina Colassanti, “Envelhecer não é fácil. É bonito, emocionante, mas são muitas as despedidas”. Porém, uma das piores dores do envelhecimento é o sentir-se sozinho. E a proposta do Sesc MG é justamente que isso não aconteça, que dali se crie uma rede entre os participantes, para que se ouçam, façam companhia, conquistem novas amizades, tenham com quem falar, chorar, sorrir, celebrar.

Parafraseando o grande Martin Luther King, “Eu tenho um sonho”, dentre outros tantos que nutro. Queria tanto que mais e mais pessoas pudessem ser atendidas por projetos tão essenciais como o +60; que todos os idosos pudessem envelhecer com a mente e cérebro em movimento e que a nossa longevidade seja saudável, sustentável e feliz.

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