Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

A Sabará que acolhe seus estudantes

17/11/2023 às 06:00.
Atualizado em 17/11/2023 às 13:43

Os ônibus começavam a parar em frente ao Cine Bandeirantes, na cidade mineira de Sabará, que já estava se preparando para o tradicional Festival da Jabuticaba e tinha algumas ruas fechadas para a montagem deste esperado evento.

Na calçada do cinema, no início da manhã e da tarde, com o sol mostrando a que veio, os jovens do ensino médio de algumas escolas estaduais da cidade se preparavam para um turno de palestras, num evento criado há anos por Lucas Silva, professor de Geografia, que na época era vereador da cidade e que hoje ocupa o cargo de vice-prefeito de Sabará.

As palestras daquele dia seriam a culminância de um trabalho feito nas escolas, com o objetivo de ouvir os estudantes e conversar sobre o presente, entendendo o como eles estão cuidando da sua saúde emocional e fazê-los despertar para o que esperam e querem do seu futuro, ampliando as suas perspectivas.

Confesso que fiquei encantado no dia em que, numa cafeteria de Belo Horizonte, o Lucas Silva veio me explicar sobre essas ações do Papo Cabeça, dizendo das angústias dos alunos, isso alguns anos antes da pandemia, e da necessidade de cuidado dos professores também. 

Naquela época eu fui a algumas escolas para fazer palestras, levei comigo o David César, que ilustrou bastante o caminho que ele, que nasceu com uma doença rara, trilhou para se aceitar e ser aceito pela sociedade. Num outro momento conseguimos reunir, além de mim e do David, o humorista Thiago Carmona, que é uma das pessoas mais fraternas e solidárias que conheço e o triatleta Thiago Vinhal, que mora fora do Brasil, mas toda vez que está por aqui se disponibiliza e apoia as causas sociais.

No encontro deste ano parece que os alunos voltaram mais frágeis, com mais necessidade de atenção, mais fechados e retraídos. Formamos o palco com as falas iniciais do prefeito Wander Borges, que vai a cada evento dar o seu testemunho, além de diversos vereadores e secretários municipais. O Lucas conduzia a cerimônia, que neste ano, além da minha fala e do David César, contou com duas participações femininas importantes: a consultora Cris Melo, criadora da comunidade feminina de negócios chamada Mentes em Ação e da barista e mestre de torra Kívian Monique, do Café Utopiia. Atuante em diversas frentes, ela investe na capacitação de jovens talentos para que trabalhem como baristas, tendo o café como sustento, mas como paixão também.

No auditório, as histórias se encontravam, do palco com a plateia, uma identificação de dúvidas, dores, medos, hesitações, tomadas de decisão, enfrentamento, descobertas. Os olhares atentos mostravam que eles estavam degustando o que acontecia ali. 

Nas quatro palestras do Papo Cabeça deste ano, uma mescla de sentimentos invadiu a todos, mas a esperança sobressaiu. Ninguém foi ali falar que as coisas seriam fáceis, mas entendemos que muitas delas não são impossíveis e outras não são pra gente.

E foi conversando com um e com outro que naquele dia conheci outra iniciativa de muito êxito, realizada conjuntamente pelas Secretarias Municipais de Educação e de Defesa Social, e que acho que pode servir como benchmarking para outras prefeituras, tamanho o sucesso que as ações deste projeto têm alcançado.

O Guarda-chuva Azul, que foi assim batizado para representar a segurança emocional, aliada à cor azul da Guarda Civil Municipal(GCM). Durante o ano de 2023, foram atendidas cinco escolas estaduais e oito municipais, levando uma equipe da GCM de Sabará para fazer dinâmicas com as crianças e adolescentes dentro do ambiente escolar.

Tendo o livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry, como guia para as intervenções, muito do que é tratado no projeto está relacionado às dores que os adolescentes carregam, mas, desta vez, criando um espaço de compartilhamento, onde eles ocupam o seu lugar de fala para expressarem sobre si próprios, suas relações. 

O mais interessante é que a equipe da Guarda que conduz os trabalhos entra e permanece uniformizada, contribuindo para a construção do conceito de proteção que a instituição tem trabalhado e reforçando simbolicamente que uma sociedade saudável depende de que os seus indivíduos possam se sentir seguros para viverem, conviverem e tomarem decisões.

O Guarda-chuva Azul ressalta os relacionamentos entre os alunos e uma rede de proteção que os envolve, como outros colegas, os professores, os funcionários da escola, ao passo que busca fortalecer as relações familiares saudáveis e acolher aqueles que não têm este amparo familiar.

O projeto é desenvolvido no decorrer do ano, conta com o apoio dos educadores e tem o seu encerramento com apresentações culturais, num espaço de valorização da arte, da cultura e da diversidade no município.

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