Sentados em um barzinho no entorno da Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, estavam diversos atores que tinham acabado de sair dos seus espetáculos e se encontravam ali com os amigos para comentar como tinha sido a noite, combinar algum projeto ou simplesmente matar a saudade. Por ali, vários restaurantes recebem os artistas após os eventos. Muitos têm parcerias culturais e acabam sendo patrocinados por esses estabelecimentos.
Passei pelas portas dos bares e fui ao restaurante Planeta’s, perto do recém-reinaugurado Teatro Cultura Artística, que sofreu um incêndio há 16 anos e só agora, em 2024, retomou suas atividades.
Tanto nos bares quanto nos restaurantes, algo me chamou a atenção: muitos dos atores presentes não eram de São Paulo. Tinham vindo, já formados, para fazer cursos de especialização ou aprender alguma técnica e, ao se relacionarem com novos amigos, acabavam recebendo propostas para pequenos trabalhos aqui e ali, até conseguirem se estabelecer definitivamente na capital paulista.
A vida cultural de São Paulo é incomparável, com muitas escolas de artes e emissoras de comunicação, o que faz uma grande diferença para quem nasceu e vive em Recife, Belém, Belo Horizonte ou em tantas outras cidades.
Essa reflexão serve apenas para contextualizar o quanto fico alegre em saber que uma produtora mineira, a Cangaral, iniciou um projeto que envolve dezenas de artistas mineiros, em uma produção quase totalmente mineira. Eu sei que não devemos nos fechar para o mundo, isso é óbvio, como diz o personagem do filme “O Poço”. O intercâmbio de culturas, pensamentos e pontos de vista é essencial. Mas uma produtora nossa abraçar nossos talentos e mostrá-los para o mundo é, de fato, uma grande notícia.
No elenco, há pessoas que atuam em nosso Estado ou que, atualmente, estão em outras localidades, seja trabalhando na publicidade, no teatro ou nos veículos de comunicação.
Conhecida pelos sucessos no teatro com as peças “Acredite, um Espírito Baixou em Mim” e “Maio Antes que Você me Esqueça”, a Cangaral revelou recentemente ao público que começou as filmagens de “As Mineiras, Uai”, produção audiovisual com estreia marcada para 2025, no streaming. Escrita por Sílvio Cerceau e dirigida por Márcio Trigo, a série retratará histórias de oito mulheres que vivem no interior do Estado e enfrentam questões sociais diversas, como violência contra a mulher, traição conjugal, transfobia e feminicídio.
Os fundadores da Cangaral e atores muito queridos pelo público, Maurício Canguçu e Ilvio Amaral, também estarão na série e compartilham a empolgação com o projeto. “Tem sido muito bonito viver essa atmosfera que celebra a nossa cultura e os nossos artistas. O apoio das prefeituras, da população, toda a equipe está empolgada e com brilho nos olhos”, conta Amaral.
A representatividade mineira se estende para os bastidores. “É uma produção que fala sobre Minas, com uma equipe majoritariamente mineira. É mais uma oportunidade de mostrar ao mercado o que temos feito por aqui. Mais uma vez, mostramos que Minas Gerais, além de ser uma referência para a história do país, também pode produzir uma boa dramaturgia”, compartilha Sílvio Cerceau, autor da minissérie.
O roteiro de gravação inclui as cidades de Igaratinga, Felisburgo, Rubim, Araçuaí, São Gonçalo do Pará, Pitangui, Jequitinhonha e Maravilhas. Para esta primeira fase, Sílvio Cerceau se inspirou em séries clássicas da TV brasileira, como “As Cariocas” e “As Brasileiras”, criadas por Daniel Filho. Com características de uma boa dramaturgia, “As Mineiras, Uai” também agradará aos fãs de Nelson Rodrigues, Sidney Sheldon e Pedro Almodóvar.
“Todo mundo conhece uma vendedora boa de lábia, tem carinho por uma costureira, conhece uma romântica incurável ou já ouviu histórias de uma mulher traída. Tudo isso estará nesse seriado”, comenta o diretor Márcio Trigo. Além da temporada “As Interioranas”, “As Mineiras, Uai” terá outras três sequências: “As Belorizontinas”, “Causos Mineiros” e “Músicas de Minas”. O projeto conta com o apoio da Lei Paulo Gustavo, do Estado de Minas Gerais.