Tio Flávio*

Após uma entrevista que fiz com a Dra. Cláudia Caciquinho, geriatra, ela me disse: “você tem que falar sobre os cuidados paliativos”, e indicou alguns nomes, dentre os quais a Dra. Cristiana Savoi, especialista no assunto, que de uma maneira doce e lúcida explicou do que se trata e a importância desse tema.

E foi a própria Dra. Cristiana que me deu a dica de ouro, nos bastidores do programa, sentadinha no estúdio da rádio, quando eu falava do meu encanto pelos estudos sobre a morte como aprendizado para o sentido da vida. Eu explicava das minhas pesquisas em autores da área médica e ela me presenteou com uma frase que me despertou: estude a Filosofia, também.

Antes da Filosofia, já havia lido “A morte é um dia que vale a pena viver”, da Dra. Ana Claudia Arantes, além de diversos livros da Dra. Elisabeth Kubler-Ross e do Dr. Atul Gawande – o Mortais é primoroso. O contato com os cuidados paliativos ficou mais intenso no livro “Enquanto eu respirar”, escrito pela Ana Michelle Soares, que é uma paciente oncológica e não deixa de enfatizar: “tenho um câncer terminal mas não estou morta”, colocando a doença como parte da sua vida e não o fim dela.

Esse é um assunto evitado em vários setores da sociedade. Na família, muitas vezes, ele é tido como prenúncio de má sorte, então evita-se, o que é um erro. Entre amigos pouco falamos e se não temos um médico de referência, numa situação de adoecimento ninguém está ciente das suas vontades e de como você gostaria de ser tratado: os cuidados que você gostaria – ou não - de receber. 

Aproveitando o mês de outubro, em que é celebrado o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos, foi criada a campanha “Eu apoio os Cuidados Paliativos no Sus”, uma iniciativa da Sotamig(Sociedade de Tanatologia e Cuidado Paliativo de Minas Gerais) com o apoio da ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos). A proposta é divulgar e sensibilizar a população sobre a importância do acesso aos cuidados paliativos pelo SUS, o que seria um ganho mútuo para paciente, familiares e profissionais dedicados à vida.

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), o cuidado paliativo é uma modalidade de assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, através da prevenção e alívio do sofrimento, por meio de identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.

Apesar do interesse e trabalho incessante de profissionais de saúde engajados com a causa, não se conseguiu ofertar de modo constante e equânime os cuidados paliativos aos pacientes que dele necessitam. A demanda é enorme e crescente, portanto é urgente que sejam planejadas as adaptações de modo a garantir o acesso a esse serviço, tão necessário e raro em nosso sistema de saúde.

“A população de Minas Gerais está estimada em 21 milhões de habitantes, sendo 2,5 milhões concentradas na capital. Segundo diretrizes internacionais, para a cada 1 milhão de habitantes, estima- se que cerca de mil precisarão de assistência especializada em cuidados paliativos por ano, portanto teremos 21 mil pacientes/ano em nosso estado, número provavelmente subestimado, considerando-se a pouca oferta de serviços minimamente preparados para assistência paliativa básica em nossa rede.”, explicam os organizadores da campanha. 

“Diante da perspectiva de demanda crescente, tendo em vista que o Brasil vive um processo de envelhecimento populacional com aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) em nossa sociedade, entendemos ser necessário corrigir rumos e evitar o agravamento da já crítica situação que enfrentamos”, concluem. 

Para apoiar a campanha é tão fácil e rápido. Acesso o site change.org e busque pelo tema: apoie os cuidados paliativos no SUS. 

 

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