Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Defensoria Pública e Remediar nos dando vida e esperança

Publicado em 30/08/2024 às 06:00.

Uma pessoa em desespero fala sobre a sua avó e logo vem com o pedido: “ela precisa de uma medicação, mas é muito cara e a gente não sabe mais o que fazer”. Uma família precisa de fraldas e não sabe como conseguir.
Chorando, aquela mãe diz que é tão difícil ficar se humilhando, pedindo para uma pessoa e outra, já que o marido está desempregado e ela tem feito o que pode, como manicure, salgadeira e mãe de família para não deixar faltar nada para os filhos.

Um outro pedido vem de um filho. Seu pai teve a indicação de alguns medicamentos e não pode adquiri-los, já que têm despesas altas com aluguel, cuidados especiais daquele idoso acamado e uma alimentação específica. 

Fui postando todas as demandas num grupo de instituições sociais a que pertenço e a indicação era a mesma: procure a Valéria, do Remediar.
Valéria Castro é uma profissional da saúde que trabalha incessantemente, atuando inclusive no SAMU e tendo ali acesso a muitas pessoas e suas histórias. Ela conta algumas das suas inquietações: o que as pessoas fazem com os medicamentos que sobram em casa e que ainda estão na data de validade? O que fazer quando um remédio é receitado por um médico e a família não o consegue pelo Estado e nem por doações de amigos?

Como enfermeira, Valéria teve a bendita ideia de criar uma organização da sociedade civil, a Remediar, com base nos relatos dos pacientes. E como filha, viveu apertos junto aos seus pais para conseguir os medicamentos de alto custo que o SUS não fornecia.

A Remediar iniciou uma campanha da farmacinha que quase todo mundo tem em casa e dos remédios que estão prestes a vencer e que a pessoa não usaria mais. Hoje a medicação doada para a Remediar vem daquelas pessoas que faleceram e a família havia comprado uma quantidade maior para estoque, dos serviços de saúde, que têm algum produto em excesso ou dos colegas médicos, que também passaram a doar, vendo a seriedade do trabalho.

“Caso as pessoas tenham interesse em doar, se tiverem cartelas de comprimidos em que alguns já foram usados, não há problema algum, desde que ele esteja bem armazenado e na validade”, explica a Valéria, que indica o próprio Instagram da instituição (@remediar) como forma de acesso.

O contato com quem precisa e já solicitou a medicação só é feito quando aqueles medicamentos estão disponíveis, seguindo uma ordem de solicitação e de urgência. A Remediar segue todas as normas estabelecidas pelas secretarias de saúde. Por exemplo, se é uma medicação controlada, a receita ficará retida; se a receita tem um prazo de validade mais longo, é anotada na receita a quantidade de medicamentos que a pessoa já adquiriu.

Além de ajudar diretamente a muita gente, Valéria explica que o interesse deles é, também, educar as pessoas para evitar que uma quantidade de medicamentos, ainda no prazo de validade, vá parar no lixo e, pior ainda, sendo realizado num descarte incorreto.

A feliz novidade agora é que a Defensoria Pública de Minas Gerais - DPMG e a Associação Remediar firmaram um compromisso para o fornecimento de insumos de saúde para quem precisa e busca o auxílio da Defensoria. Durante a inauguração do novo espaço dentro do prédio da Defensoria, Valéria Castro falou que a ideia cresceu.

“Chegamos até aqui com milhares de vidas impactadas, não só pelas doações de medicamentos e insumos, mas também com educação e saúde, atendimento psicológico, acolhimento social, alimentação de qualidade a mais de 70 famílias da comunidade onde fui criada, no bairro Nazaré, região Nordeste de Belo Horizonte”. 

Valéria pontuou que todo mundo pode ajudar a transformar vidas.  “Cada um pode ajudar, seja doando, se voluntariando, sendo ponte, ou simplesmente divulgando ações do bem como a nossa. Tenho certeza de que este é somente um pontapé inicial. Que sejamos inspiração e exemplo de que a parceria entre o setor público e o terceiro setor é possível sim, e que todos saem ganhando. Basta querer fazer acontecer”, disse.  

Na prática, funcionará da seguinte forma: pessoas com demandas de medicamentos e insumos de saúde devem procurar a Unidade 1 da Defensoria em BH (Rua dos Guajajaras, 1707, Barro Preto). Elas serão encaminhadas para o Atendimento Inicial, que solicitará os documentos necessários e fará o agendamento para atendimento na Defensoria Especializada de Saúde, na Unidade 4.  A documentação básica inclui identidade e CPF dos pais e dos filhos, comprovantes de residência e renda, relatório médico atualizado e negativa administrativa de fornecimento do medicamento ou insumo (se possível).  

Após o atendimento pela Defensoria Especializada de Saúde, a equipe de apoio da ReMediar, juntamente com um profissional farmacêutico e a defensoria pública verificarão a disponibilidade do medicamento, insumo ou item de reabilitação demandados.  

Para a Defensora Pública-Geral de Minas Gerais, Raquel Gomes de Sousa da Costa Dias, o grande ganho que temos sobre qualquer aspecto tecnológico é o de “cuidar das pessoas que, como nós, fazem parte da sociedade”. Eu cheguei a dizer à Raquel, certa vez, que a Defensoria é o respiro do sistema. Firmar parcerias com instituições do terceiro setor, como foi feito agora, significa tomarmos um fôlego maior.

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