Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

É vida: espetáculo de dança reúne 180 mulheres maduras

Publicado em 27/10/2023 às 06:00.

Numa grande cozinha, aquelas senhoras fazem o alimento da família. Lá fora, no quintal da casa, a horta dá os alimentos, mas promove também a prática diária de exercícios físicos. Este é um dos cenários mostrados na série “Viver até os 100: os segredos das zonas azuis”, que está disponível na Netflix.

Dan Buettner, jornalista e escritor norte-americano, dedica mais de quinze anos de sua vida à pesquisa da longevidade. Encontrou no mapa mundial cidades em que as pessoas vivem até, ou para além, dos 100 anos e teve a sagacidade de entender quais eram as características daquelas pessoas e o que elas tinham em comum, mesmo estando em estados e continentes diferentes.

O termo “Zona Azul” é usado para definir estas localidades que possuem as populações mais longevas do mundo. Em comum, elas possuem a preocupação com a alimentação nutritiva; cuidados com a saúde, inclusive preventiva; interação social, que propicia o cuidado mútuo; voluntariado, que estimula o trabalho conjunto e o compartilhamento de propósitos; o Ikigai, também chamado de propósito ou plano de vida, muito importante para dar sentido e orientar a nossa existência.

Outras questões também foram mapeadas, como a prática da fé, meditações e sorrir. Um dos itens de destaque que ajuda a manter um envelhecimento ativo e saudável é dançar, uma vez que ativa diversos hormônios benéficos ao cérebro e ao corpo, envolve movimento, trabalha o prazer, a concentração e quando praticado com frequência e em conjunto, em uma escola ou encontros contínuos, transforma aquele grupo numa rede de convivência.

É por isso que não tem como não ficar encantado com o trabalho desenvolvido pelo Casulo Espaço e Tempo de Dança, destinado a mulheres maduras que têm como sonho aprender a dançar. As aulas levam em consideração as transformações dos corpos e das vidas das alunas no decorrer do tempo. Além das aulas de dança de estilos variados, o Casulo propõe aulões mensais nas praças de Belo Horizonte, assim como clube de leitura e grupos terapêuticos, todos voltados para as alunas e com temas relacionados ao universo feminino.

No dia 2 de novembro, o Casulo nos dará um enorme presente: a estreia do espetáculo de dança “É Vida”, idealizado e dirigido pela coreógrafa mineira Carol Saletti. Em cena, 180 mulheres com idades entre 30 e 85 anos, que refletem sobre a vida e a finitude, em 20 coreografias pautadas nas vivências dos seus corpos maduros. A montagem é inspirada na obra “Água fresca para as flores”, da francesa Valérie Perrin, e nos livros “A morte é um dia que vale à pena viver”, “Histórias lindas de morrer” e “Para a vida toda valer a pena viver”, da geriatra paliativista Ana Cláudia Quintana Arantes.

A coreógrafa Carol Saletti trabalha com as suas alunas a consciência de que ao entender o que acontece com o corpo durante o envelhecimento - ao invés de maquiá-lo ou de negá-lo – a pessoa pode ser mais ativa na busca da saúde física e mental, viver bem e feliz, levando em conta a finitude. “É um grupo de mulheres bem heterógeno com relação à dança, mas a maioria começou a dançar depois da pandemia. São corpos muitas vezes considerados inadequados para a dança, que chegam ao espaço com o sonho de dançar ainda empoeirado, guardado no fundo da gaveta. E nós acolhemos esses corpos e as suas histórias, porque o envelhecimento do corpo como processo natural e do qual não é possível fugir é algo que faz parte das aulas de dança da Casulo”, ressalta Carol Saletti, que além de coreógrafa, é psicóloga, especialista em Psicomotricidade e Mestre em Psicologia da Saúde e do Desenvolvimento (FR).

A criação do espetáculo é coletiva: “A ideia era que o espetáculo nascesse de dentro para fora, que as alunas buscassem dentro de si o significado da vida para cada uma delas. Então, além dos relatos pessoais, eu propus a leitura dos livros da Ana Cláudia Quintana Arantes, que falam sobre a vida levando em consideração a finitude, levando em consideração a morte como uma das etapas da vida.”

Após a leitura dos livros, as alunas foram divididas em grupos de discussões. Carol Saletti lembra que nesse momento elas se sentiram à vontade para falar das suas vivências, dores, medos e alegrias. “Surgiram relatos sobre as descobertas de doenças, as experiências com o envelhecimento, com a morte e o luto.  E foram discussões muito ricas e importantes, momentos em que rimos juntas, choramos juntas e nos fortalecemos enquanto grupo. A partir dessas revelações, as alunas propuseram temas que mais fizessem sentido para os grupos e que foram os pontos de partidas para as músicas, adereços e coreografias do espetáculo.”

As mais de 20 músicas dão o tom às coreografias que transitam por diversos temas, presentes nas entrelinhas das canções. O espetáculo “É vida” estará em cartaz no Teatro Sesiminas, em duas sessões: 17h e 19h30, com ingressos à venda pelo site Sympla.

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