Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Empreendedor tem que entender de gente

Publicado em 16/02/2024 às 05:59.Atualizado em 16/02/2024 às 19:26.

“A presidente quer se reunir com você alguns dias antes do treinamento”, disse-me, duas décadas atrás, a responsável pelo RH da Fundação Hemominas, que é o centro de hematologia e hemoterapia do estado de Minas Gerais. Não me lembro o nome da presidente à época, mas a sua fala me marcou. Uma mulher, com o título de doutora, à frente de um órgão tão importante, me relatando que acreditava e trabalhava para que as pessoas fossem felizes no trabalho. Isso para ela era um fator essencial, pois a gente dedica boa parcela da vida dentro do ambiente organizacional e se ele for tóxico, desmotivador, desanimador, boa parte da nossa vida vai para o ralo sem ter valido a pena viver. Obviamente ela não me disse assim, mas foi essa mensagem que assimilei.

Nesta época eu já dava aulas de endomarketing em pós-graduações, trabalhando não apenas o conhecimento e a estratégia focados no ambiente interno, mas o desenvolvimento da cultura organizacional para um olhar humano, sem perder a finalidade lucrativa do negócio, mas se diferenciando por acreditar e investir de fato nas pessoas.

Esses dias ouvi uma entrevista do Simon Sinek, autor inglês que se tornou conhecido por propor o “círculo dourado”, que ele explica muito bem numa palestra do TED Talk que já foi vista por milhões de pessoas. Ele dizia que os clientes são pessoas, os funcionários são pessoas, então para dar certo nos negócios, o empreendedor tem que entender de gente. E não é que, acrescentando a isto, entender que as pessoas querem algo como reconhecimento, aceitação, pertencimento. Tudo isso já sabido há muito tempo pela ciência, mas ainda não praticado pelo mercado.

Renato Bruno, um dos idealizadores do MBA em Gestão do Bem-estar Organizacional e Felicidade Corporativa, um curso lançado pela PUC-MG, acaba reafirmando o que aquela presidente da Hemominas dizia década atrás: “Pesquisas mostram que 72% das pessoas não gostam do próprio trabalho. Como um país pode prosperar se o trabalho digno não é valorizado?
E se você é infeliz no trabalho, meus pêsames, já que você passa um terço da sua vida trabalhando”.

Em um mundo corporativo cada vez mais competitivo e dinâmico, o bem-estar organizacional e a ciência da felicidade emergem como pilares fundamentais para o sucesso sustentável das empresas, afirma o professor.
Elimar Melo, que também coordena o citado MBA, traz uma das preocupações que motivou a criação de um curso que pense o tema felicidade organizacional: “Um dos receios que tenho quando se fala de felicidade no trabalho é o empresário entender que isso é uma “moda” ou apenas uma estratégia para melhorar a produtividade e os resultados da empresa”. E o argumento dele é válido, pois se este tema for pensado como modismo, pode desaguar numa perda de sentido: “Se algum dia se cogitar a ideia de que pessoas infelizes e maus-tratos servem melhor à produtividade, este tipo de empresário adotará esta “moda”?”.

E o bem-estar organizacional, que para muitos é utopia, na verdade é muito mais que uma estratégia de negócios. É a maneira pela qual a empresa se entende. Além de proporcionar uma marca mais forte, a empresa passa a se consolidar no mercado ao passo que entrega aos clientes finais o que elas buscam. Elimar Melo faz uma reflexão: “Que pessoas felizes se dedicam mais e melhor em seus desafios, é comprovado! Mas, uma coisa, também importante, ao se considerar uma organização que tem o cliente como centro de suas estratégias (Customer Centricity) ou que deseja proporcionar experiências inesquecíveis a eles (Customer Experience), é que certamente tem que investir em pessoas capacitadas e treinadas para prestar serviços de um nível superior.”

Porém, as lideranças atuais estão preparadas para este assunto? Bom, se não tiverem, que busquem conhecimento, aqui ou em qualquer lugar do mundo, entendendo novas práticas de negócios, vendo adequações à sua realidade, mas, antes de mais nada, moldando sua empresa de tal forma que as pessoas, em todos os papéis que elas assumem na relação empresarial, sintam-se bem e realizadas onde quer que estejam nesse mapa organizacional.

Renato Bruno diz que os “Líderes visionários compreendem que a felicidade dos colaboradores não é apenas um ideal abstrato, mas sim um investimento estratégico que impulsiona a produtividade, a inovação e a retenção de talentos. Ao promover um ambiente de trabalho onde os colaboradores se sintam valorizados, engajados e realizados, os líderes não apenas cultivam uma cultura empresarial positiva, mas também colhem os frutos de uma força de trabalho comprometida e produtiva que entrega resultados. Nesse contexto, a ciência da felicidade e o bem-estar organizacional se tornam um diferencial competitivo poderoso para moldar o futuro das empresas, inspirando um crescimento genuíno e sustentável para a nossa sociedade”.

Pois bem! Se vivemos a felicidade como uma ditadura, em que parece obrigação ser feliz o tempo todo, o bem-estar nos diz que esta felicidade falsa, cenográfica, só serve para deturpar realidades. O ponto principal que devemos nos atentar é que todos ganham com uma organização que, na soma das experiências, entrega felicidade porque acredita que isso é a sua própria essência e que é possível uma nova postura que rompa alguns velhos obstáculos.

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