Quando eu cheguei na casa da minha mãe para passar um fim de semana, dias após ela ter sofrido uma queda e ver sua casa invadida pelos filhos - que continuam revezando por lá até hoje -, eu já propus fazer uma organização geral em seus livros com os objetivos de reciclar ou doar. Ela sempre foi contra, mas, desta vez, em busca de paz, cedeu à minha insistência.
Num dos armários de dentro da casa havia algumas apostilas do curso de graduação que ela fez há 15 anos e em meio a tantos papéis tinha um livro, no formato de Trabalho de Conclusão de Curso, em capa preta e letras douradas. Folheei e vi que ali estavam registrados alguns fragmentos da sua vida, com histórias, fotos, cartas. Era de fato um trabalho da faculdade, em que os alunos colocavam ali as suas memórias.
Minha mãe tomou o livro em suas mãos e foi passando as páginas, toda alegre com as recordações. Tinha foto dos filhos, do meu pai, da sua juventude, cópias de cartas do meu pai para ela, cartões. Preservamos este livro, que não seria nem descartado e nem doado. Levei ele comigo para a minha casa para ver as histórias ali escritas. Foi naquele momento que tive a ideia de criar um projeto voltado aos idosos institucionalizados, que viviam nos antigos “asilos”, a que hoje chamamos de Instituições de Longa Permanência para Idosos – IPLIs.
Eu convidaria voluntários para que pudessem ligar para os idosos, indicados pelas instituições, de preferência aqueles que não tivessem vínculo com a família. Semanalmente, no horário agendado, esta ligação de vídeo aconteceria e, a partir dali, as histórias que fossem contadas pelos idosos iam sendo escritas pelos voluntários. Ao final desse tempo, encadernadas e com letras douradas na capa, estariam eternizados os momentos da vida daquelas pessoas. O sucesso foi tão grande que resolvemos fazer outras edições para atendermos mais pessoas.
Tempos depois conheci um livro, vendido nas livrarias, que vem com várias perguntas para que qualquer pessoa possa fazer isso que criamos. Comprei um exemplar, da editora Sextante, chamado: “Vó, me conta a sua história?”.
O mês de outubro, que culturalmente já está bem ligado às campanhas de conscientização sobre o câncer de mama, também levanta a questão da geração prateada, mais conhecida como 60+ ou idosos, já que a legislação determina a denominação de idosos àqueles que completam seus sessenta anos de vida. O mês foi escolhido por causa da criação do Estatuto da Pessoa Idosa, em outubro de 2003, sendo um símbolo de muitos avanços, mas que também já merece uma atualização, em função das mudanças aceleradas que a sociedade foi submetida. É necessário um olhar menos homogêneo das velhices. Como diz a jornalista Roberta Zampetti: não existe uma velhice, elas são várias. E esta diversificação vem das características de um indivíduo aos 60 anos serem bem diferentes daqueles com 70, 80, 100 anos de idade.
Também devem ser consideradas questões que no passado não eram tão marcantes e que agora se acentuam e, obviamente, deve ser feita uma cobrança maior da sociedade para que o estatuto tenha respaldo pelas pessoas, empresas e governos, dando a ele a atenção que merece.
O Instituto Galo tem se fortalecido no cenário social mineiro, atuando em causas importantes, como foi o Unindo Forças BH, uma união de instituições que arrecadou mais de R$ 2 milhões para a compra de cestas básicas para as famílias vulneráveis durante a pandemia. Mais recentemente, nesta onda de calor dos últimos dias, foi importante parceiro para viabilizar a entrega de água a pessoas em situação de rua.
Maria Alice Coelho, Presidente do Instituto Galo, explicou que o Festival 60+ realizado na primeira semana de outubro foi uma forma de reconhecer e valorizar tudo aquilo que as pessoas idosas já fizeram pela sociedade e tudo que ainda farão, pois são extremamente capazes e ativas.
Não podemos parar, mas é preciso avançar. O importante é que cada setor – governos, mercado e sociedade civil – faça a sua parte e, melhor ainda, será quando pensarem e agirem de maneira integrada e confluente.