“Pode falar, sim. Eu estou dentro do carro, aqui no Mesa Brasil, esperando para receber umas doações de biscoitos para levar para os meninos”, me responde uma grande amiga para quem eu havia acabado de enviar uma mensagem. Ela, que é de uma instituição que atende crianças e adolescentes de uma comunidade em BH, vibra quando o telefone toca chamando para buscar doações.
O Mesa Brasil, do Sesc Minas, iniciou sua atuação na capital mineira em 2003. Depois chegou a Montes Claros, Uberlândia e Juiz de Fora. Em 2020 criou o projeto de expansão chamado Rede 853, que visa levar a metodologia, não a estrutura, do programa para todos os 853 municípios de Minas até 2028.
Em Minas são cerca de 1.600 instituições cadastradas, que recebem por volta de 450 toneladas de alimentos distribuídos mensalmente. Supermercados, hortifrutis, indústrias, comércios doam produtos próximos ao vencimento e o Mesa Brasil se responsabiliza em fazer chegar às instituições sociais cadastradas o mais rápido possível.
No contexto da Covid-19, em que cerca de 116,8 milhões de brasileiros vivem em insegurança alimentar, ou seja, falta de acesso pleno e permanente à alimentação, essas doações ajudam muito, mas não são o suficiente para toda a demanda existente.
Algumas doações são recolhidas pelos funcionários do Mesa, a quem deixo aqui o nosso abraço e agradecimento, pois eles são fundamentais e sabem que fazem um trabalho árduo, mas necessário. Os produtos são levados para um galpão onde são separados e uma equipe aciona, de acordo com o perfil de públicos que trabalha, as instituições para irem buscar.
As instituições que recebem as doações são os braços do Mesa Brasil nas comunidades, por isso, devem também ter o seu esforço reconhecido. Todas são acompanhadas de perto, inclusive com visitas aos locais onde atuam, como forma de garantir o destino correto para quem realmente necessita.
Quem observa todo esse trabalho de fora vê que ele é gigantesco. O número de comunidades e famílias beneficiadas chega aos milhares, mas, em meio a essa massa de gente, eu queria conhecer nomes, identidades, histórias. Então chegou a hora de sair da estatística e ir para o calor da vida real.
A senhora Valda Dias, 62 anos, faz parte de uma das famílias atendidas na Associação dos Moradores do Bairro Novo Progresso – Amonp, que é uma das entidades cadastradas no Mesa Brasil.
“Tenho uma mãe de 85 anos, que é acamada. Quando cheguei na Amonp, me encontrava numa situação muito difícil e o meu caso foi atendido com prioridade. Tinha dia que eu contava com duas batatinhas e metade de uma cenoura pra fazer a sopinha da minha mãe. As doações têm suprido nossas necessidades; eu andava muito deprimida, muito triste e hoje posso oferecer a ela uma refeição mais nutritiva. Isso ajudou muito na minha parte emocional e acredito que isso está ligado ao que vai à nossa mesa. O Mesa Brasil se resume em algo muito maior, que é nos dar segurança. A gente se sente acolhida, amparada.”
Já a Charlene Cristiane, moradora e coordenadora da ocupação Rosa Leão, da região da Izidora, em BH, me disse que: “nós sentimos um acalento na alma quando o Programa Mesa Brasil veio a ser parceiro das comunidades de ocupações”.
Só na Rosa Leão, segundo Charlene, são 1.500 famílias, com cerca de 8.000 pessoas. Na Izidora toda, são 8.000 famílias, com 30 mil pessoas. “Muitas famílias choraram porque não teriam uma carne para comer no Natal e aí veio a doação de chester da Mesa Brasil. Pessoas de 64 anos que falaram que nunca comeram um chester na vida. Além disso, também temos as doações de tomate e cenoura, e você vê as crianças pegando o tomate e comendo porque sentem fome. Então, para comunidade de ocupação, o Mesa Brasil é a esperança para seguirmos lutando”.
O programa Mesa Brasil do Sesc é reconhecido internacionalmente. Torcemos que prospere, tenha vida longa e ainda mais empresários se juntem nessa luta que é de todos nós.
*Palestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural