Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Jovem que teve pernas amputadas se adapta às próteses

Publicado em 10/01/2025 às 06:00.

Recebi de uma conhecida uma mensagem desesperada. Ela relatava o caso de um adolescente de 17 anos, amigo de seu filho, que enfrentava um grave problema de saúde. A família do jovem estava unida, tentando dar força a ele, mas já antecipavam os desafios de uma nova rotina. O que estavam vivendo era algo inusitado e profundamente transformador para todos.

Perguntei à Sandra, a pessoa que fez contato comigo, do que se tratava. Visivelmente abalada, ela me contou a história de Artur Gabriel. Ele havia sido acometido por uma bactéria extremamente agressiva, que se espalhou rapidamente pela corrente sanguínea. Inicialmente, Artur foi atendido na Unidade de Pronto Atendimento - UPA de Venda Nova, na primeira quinzena de agosto de 2024. Apesar do esforço da equipe médica, a gravidade do caso exigiu sua transferência imediata para o Hospital Risoleta Neves, na Região Norte de Belo Horizonte. Lá, ele precisou ser entubado, uma medida urgente para estabilizar suas funções vitais.

Mas a luta estava apenas começando. O quadro de Artur se agravou, comprometendo a circulação sanguínea em seus pés e mãos. Os médicos, em uma batalha constante para evitar a dor que o adolescente sentia, administraram altas doses de medicamentos. No entanto, a circulação deficiente levou à necrose de tecidos. Após avaliações criteriosas, a equipe médica cogitou amputações como última tentativa de conter os danos.

A notícia abalou profundamente a família, os amigos e todos que acompanharam a história. Um jovem cheio de vitalidade, amante do futebol e de momentos com os amigos, agora se via diante de um futuro incerto. Poucos dias depois, o inevitável foi confirmado: Artur, de 17 anos, teria que se submeter a um procedimento de amputação parcial das duas pernas e de quatro dedos de uma das mãos.

Sandra, ao me relatar os detalhes, pediu minha ajuda para divulgar uma vaquinha virtual. A ideia era arrecadar fundos para adaptar a casa de Artur à sua nova realidade. Portas precisariam ser alargadas, rampas construídas e o ambiente preparado para que ele pudesse se locomover em uma cadeira de rodas. A urgência era grande, e o apelo emocionou não apenas a mim, mas também a todos que tomaram conhecimento da situação.

Além das adaptações físicas, havia uma preocupação maior: o impacto emocional de tudo isso sobre Artur. Como um adolescente, acostumado a uma vida ativa e cheia de movimento, enfrentaria essas mudanças tão drásticas? A família temia não apenas pelas barreiras físicas, mas, sobretudo, pela luta que ele travaria contra a tristeza, o desânimo e as incertezas que o aguardavam.

Em setembro de 2024, as amputações foram realizadas. A partir desse momento, Artur começou a mostrar uma força que surpreendeu a todos. Mesmo em meio às dores e ao desgaste emocional, ele gravava vídeos do quarto do Hospital Risoleta Neves, agradecendo as demonstrações de carinho que recebia. Um momento emocionante ocorreu quando seus amigos se reuniram em frente ao hospital com balões e faixas, garantindo a ele que não estava sozinho.

Conversei com Pedro, irmão de Artur, que me impressionou com sua fé inabalável na recuperação do adolescente. Ele compartilhou as dificuldades e os desafios que enfrentavam, mas também a força que encontraram na solidariedade de pessoas próximas e até mesmo desconhecidas. Explicou que a casa precisaria de uma série de reformas, que só seriam possíveis graças às doações arrecadadas pela vaquinha digital e pelas contribuições via PIX, que continuam abertas.

Em meio a tudo isso, surgiu o desejo de realizar um sonho: que o jogador Hulk, ídolo de Artur e de tantos outros atleticanos, fizesse uma visita surpresa ao hospital. A família acreditava que o encontro poderia trazer ânimo ao jovem e chamar ainda mais atenção para a campanha de ajuda. Apesar do esforço de muitas pessoas para que isso se concretizasse, a logística e algumas limitações acabaram tornando a visita inviável. Ainda assim, a tentativa mobilizou uma rede de solidariedade impressionante.

De volta para casa, Artur iniciou sessões de fisioterapia, enquanto a família descobria que o próximo passo seria viabilizar próteses para as pernas. Essas próteses lhe devolveriam parte da autonomia e da independência que ele tanto valorizava. Pelo SUS, o acesso às próteses era possível, mas a fila de espera poderia ultrapassar um ano. A aquisição particular, no entanto, era cara, com custos em torno de R$ 90 mil.

Mais uma vez, a solidariedade fez a diferença. Graças à ajuda de pessoas que sequer conheciam Artur, a família conseguiu arrecadar parte do valor necessário. As próteses foram adquiridas, e ele começou a se adaptar a elas, mostrando uma evolução impressionante.

Tenho acompanhado a sua evolução em seu perfil (artursuperacaoficial) e me surpreendi um dia ao ver Artur em um quarto, em pé, fazendo embaixadinhas com uma bola. Em outro vídeo, ele entrava em uma piscina, com vários colegas lá dentro, aguardando-o, como em uma operação de resgate. Ele olha para a água, respira, pula e nada. Os colegas acompanham sem encostar no garoto, em meio a gritos e tensão que terminam em comemoração quando, dando algumas braçadas, Artur levanta o rosto sorrindo.

De setembro de 2024 a janeiro de 2025, apenas quatro meses após as amputações, Artur deu passos largos em sua recuperação. Com o apoio de profissionais dedicados, da família e de uma imensa rede de solidariedade, ele tem superado cada obstáculo com coragem e determinação. 

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