Um dia desses o Danilo, psicólogo de uma casa de acolhimento de adolescentes, me mandou uma mensagem explicando que um dos acolhidos, de 14 anos, é autista e precisa de alguma atividade que possa estimular a sua interação social e desenvolvimento, uma vez que a rotina dele é ficar na casa, com os demais meninos, e ir ao Cersami – Centro de Referência em Saúde Mental Infanto-Juvenil, da Prefeitura de Belo Horizonte, espaço que não conheço, mas que em breve quero ter a possibilidade de ir ver como funciona.
Uma criança ou adolescente é conduzido a uma casa de acolhimento devido a uma decisão judicial, que não cabe aos voluntários saber qual foi, que o afasta ou retira da família para garantir sua própria proteção. Em diversas casas percebo a presença de casos com diagnóstico de saúde mental e, em ao menos quatro delas, há meninos e meninas autistas.
Uma das cenas que não sai da minha cabeça é chegar numa instituição e ver uma criança, que também tem Síndrome de Down, bem cuidada pelas educadoras da casa, mas que não manifesta nenhuma reação aparente, seja de alegria ou tristeza. Recentemente, por já ter mais de 6 anos de idade, ele mudou de casa, e as crianças nesse novo lar, de 7 a 12 anos, o receberam com tanto carinho, que inclusive ajudam a equipe a cuidar dele.
Em outra casa, um adolescente é extremamente sensível aos sons e fica muito agitado com movimentos bruscos e barulhos. Ao pesquisar um pouco mais sobre o assunto, vi que o espectro autista é amplo, com características bem diversificadas e que tem que ser tratado conforme cada caso, cada indivíduo.
Fico encantado ao acompanhar o instagram da Alice (@alice.pereira.710), uma mãe de um adolescente de 15 anos, que com as suas postagens sobre o filho autista, mostra a rotina do garoto com as atividades de Terapia Ocupacional, as caminhadas e aventuras esportivas com o pai, entre outras histórias. Numa publicação ela conta sobre a aquisição de um abafador sonoro, que até foi customizado por uma amiga e ficou com uma cor linda, e como o filho se adaptou bem a ele, já que tem hipersensibilidade a sons.
Ao postar numa rede social o pedido do psicólogo, da história que deu início a esse texto, várias pessoas marcaram amigos, conhecidos, numa busca conjunta de ajuda ao adolescente (as redes sociais são uma maravilha para isso). Alguns sugeriram a equoterapia e pedimos a uma amiga da PMMG para verificar como funciona o atendimento dessa terapia, que é muito demandada.
Uma Psicopedagoga fez contato dizendo que queria ajudar de alguma forma, pois ela está finalizando um curso de Psicomotricidade e tem estudado muitas atividades lúdicas de desenvolvimento e, ainda, se prontificou para ir imediatamente ao abrigo conhecer o adolescente.
Esta semana ela me mandou uma mensagem dizendo da felicidade em iniciar esse trabalho voluntário, de como o menino fica alegre com a chegada dela e que já estão programando uma atividade externa, para ele ter experiências em ambientes diferentes.
Assim como a Marília, essa voluntária que chegou até o adolescente por uma publicação que fizemos numa rede social, temos outras tantas histórias, que vamos construindo conjuntamente, de pessoas que dedicam seu tempo, boa-vontade e conhecimento e ganham, despretensiosamente, como ela mesma disse, felicidade. Assim, não poderia encerrar esse texto, que com certeza não é só sobre o autismo, sem essa afirmativa do escritor Francês Pascal Bruckner: “Amo demais a vida para não querer qualquer coisa que não ser feliz”.