O amigo e jornalista Jomar Nicácio me mandou uma mensagem explicando sobre uma pessoa que eu iria adorar conhecer e que a sua história, a da sua família e a da causa pela qual eles lutavam deveriam ser compartilhadas e abraçadas por todos nós.
Jomar referia-se à jovem Maha Mamo, uma pessoa que oficialmente não existia, não tendo registro algum que a possibilitasse afirmar que ela era alguém. Por mais que ele explicasse, eu não entendi nada do que dizia, pois nunca tinha ouvido falar o termo “apátrida”, como são chamadas as pessoas que são impedidas de ter uma nacionalidade e, por isso, não têm acesso a nenhum direito básico que todo cidadão tem. Isso mesmo: nenhum direito.
O próprio Jomar havia redigido um texto e me mandou para esclarecer um pouco mais toda a história, já que eu entendia apenas o básico sobre o que é um refugiado, mas precisei ampliar a mente para a entrada de uma realidade que atinge milhões de pessoas em cerca de 78 países.
Maha é filha de pais sírios, mas nascida no Líbano, onde a lei diz que a nacionalidade vem do sangue e não do território. Seus pais, um cristão e uma muçulmana, fugiram da Síria porque o país proíbe relacionamentos inter-religiosos, ou seja, Maha e os irmãos cresceram sem registro e sem identidade.
A história dela é muito instigante e eu queria entender tudo. Com muita simpatia, humanidade, humildade e força de vontade, a Maha começou a se voluntariar no Tio Flávio Cultural, realizando palestras sobre a sua vida e a luta pelo reconhecimento da sua existência. Ela, que fala várias línguas, já tinha inclusive palestrado na ONU sobre a causa dos apátridas.
Em 2014, como refugiada, Maha, acompanhada da irmã e do irmão, chegou ao Brasil. Depois de muita luta e vieses que fariam muita gente desistir, o Ministério da Justiça concedeu a nacionalidade brasileira para as irmãs Maha e Souad Mamo no dia 4 de outubro de 2018. As irmãs já haviam sido reconhecidas como apátridas pelo Brasil – um primeiro passo para a obtenção da naturalização. E a concessão da nacionalidade foi considerada um momento histórico pelas autoridades brasileiras.
Seu ativismo, junto ao Acnur, Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, e sua atuação pessoal foram primordiais para que diversas outras pessoas pudessem ser beneficiadas.
Maha tornou-se um dos símbolos da campanha “I Belong”, que pretende acabar com a apatridia, e não parou a sua luta para que os mais de dez milhões de apátridas que existem no mundo tenham o mesmo direito que ela, sua irmã e outras pessoas conquistaram no Brasil.
Para quem quiser entender um pouco mais sobre o assunto e conhecer a história dessa jovem forte e incansável, o livro “Maha Mamo: A luta de uma apátrida pelo direito de existir”, escrito por ela e pelo jornalista Darcio Oliveira, já está em pré-venda pela Amazon.