Eu sempre me emociono ao escrever sobre “O Grito” e, em especial, sobre o Leo Martins, seu fundador, e isso não se deve apenas ao fato de conhecer o seu trabalho social e de ter atuado em uma campanha humanitária ao seu lado, mas por uma razão simples e essencial: um dia, buscando referências mineiras para citar em um treinamento de voluntários, encontrei um vídeo no qual o Leo conta a sua história, desde os desafios de criança, numa família marcada por afeto, mas muita escassez, ao seu encontro com a educação e as possibilidades que ela pode trazer a uma criança, ou a uma vida, melhor dizendo.
Nascido em Salinas, no Norte de Minas Gerais, Léo cresceu em um lar modesto, onde o trabalho duro do pai lavrador e a paixão pela educação, herdada da mãe professora, moldaram seus valores.
Desde cedo, a vida o desafiou com mudanças e adversidades. Entre 11 e 12 anos mudou-se para Ribeirão das Neves, Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde ele enfrentou grandes dificuldades financeiras e emocionais, após a separação dos pais. “Vivi uma grande depressão”, relata Leo. “Via meus amigos sendo presos, morrendo, e pensava que as crianças que eu conhecia passariam pelo mesmo caminho.” Foi nesse período que Léo teve seu primeiro contato com a escola e descobriu na arte uma forma de resistir. Vendendo os desenhos que fazia, ele usava o dinheiro para ajudar nas necessidades da família, inclusive na alimentação especial que sua mãe precisava devido a uma doença.
Apesar das dificuldades, Léo não permitiu que as circunstâncias o definissem. Ou melhor, permitiu, sim. Elas foram essenciais para quem ele se tornaria anos depois. Foi dali que ele tirou a determinação para transformar sua realidade e a das pessoas ao seu redor.
No dia 21 de outubro, o Instituto O Grito realizará seu tão aguardado jantar beneficente no Far East, em Nova Lima (MG). Em apenas uma semana de vendas, todos os 400 ingressos disponíveis esgotaram-se, superando as expectativas da instituição. “É uma demonstração de apoio e um reconhecimento do nosso trabalho”, comenta Leo Martins, fundador e CEO do instituto. Como a procura continua grande, a organização abriu uma fila de espera para convites extras. Os interessados em contribuir para a instituição podem adquirir ingressos pelo link: https://bit.ly/ogritoconvitejantar.
O jantar, com o tema “Vozes que Ecoam”, não apenas reunirá simpatizantes da causa, mas também se tornará uma vitrine para o impacto social que O Grito promove em diversas comunidades. O evento promete gerar um ambiente de solidariedade e conscientização.
A arrecadação será destinada a projetos fundamentais, como o Inclusão Produtiva, que em 2023 capacitou mais de 1.500 jovens e adultos, e o Polo Esportivo Cultural, que atendeu 400 crianças, promovendo atividades que vão do futebol à dança. “Trabalhamos para gerar autoestima e oportunidades. A pobreza é multidimensional”, enfatiza Leo, destacando que os projetos buscam romper o ciclo de vulnerabilidade social.
Outro foco importante para 2025 será o Programa Socioemocional, que já beneficiou quase 1.500 pessoas, desenvolvendo habilidades como empatia e resiliência. Além disso, o instituto lançará o aplicativo “Clube do Grito”, uma ferramenta para facilitar doações e ampliar a transparência nas atividades.
Leo Martins é testemunha da força da mudança. Desde as aulas de alfabetização que ministrava em Ribeirão das Neves, ele trilhou um caminho que agora impacta milhares de vidas. “Todo dia montávamos e desmontávamos tudo para as aulas”, recorda ele, relembrando o início de tudo, em que as dificuldades eram grandes, mas não o suficiente para pará-los. Isto não quer dizer que o instituto hoje viva num paraíso de recursos, pelo contrário, pois a cada doação, a destinação já é certa e consegue impactar ainda mais famílias, inclusive crianças e adolescentes, podendo fortalecer os vínculos com a família e com a escola.
Assim, O Grito se reafirma como um símbolo de esperança e transformação, mostrando que, com apoio e solidariedade, é possível construir um futuro melhor para todos.
* Palestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.